29.6.10

"Estamos hablando de futebol, coño de um raio!"

Carlos Queirós descobriu a melhor forma de atacar os adversários: falar numa coisa que ele deve julgar que é castelhano, mas que na verdade é um idioma cientificamente preparado para causar dores atrozes a todos aqueles que têm um mínimo de respeito por línguas.
A arma revelou-se eficaz, havendo relatos de jornalistas espanhóis que caíram inanimados durante a conferência de imprensa; a FIFA está a avaliar a situação.

27.6.10

Como dizia o outro, prognósticos só depois do jogo

Devia ter escrito isto há uns dias, mas não tive vontade para isso.
Saiu a minha última nota, o que quer dizer que acabei o terceiro ano da licenciatura. Acabou. Três anos, três mil euros, muita coisa.
Não foi o que eu esperava. Tinha a ideia muito errada de um ambiente académico e sério, e dei de caras com uma versão maior de uma escola secundária. Mas acabei por me habituar e gostar.
Não me dediquei sempre como devia, aliás, não me dediquei quase nunca como devia, e isso traduziu-se numa média final apenas aceitável. O primeiro ano de aulas passou-me bastante ao lado, por desinteresse nas matérias e porque me dediquei demasiado a outras coisas (que se vieram a revelar infrutíferas). O segundo e o terceiro ano foram diferentes, em parte porque sentia mais interesse por aquilo que dava nas aulas, mas também porque tive um apoio enorme de alguém que conheci entretanto.
Aconteceu muita coisa. Vi pessoas desistir, seguir outros sonhos. Perdi colegas e amigos, outros safaram-se por pouco.
Foram anos complicados, muita coisa mudou. Eu mudei, enquanto aluna, enquanto pessoa, aprendi muito mais do que aquilo que ouvimos debitar nas aulas. Aprendi a pensar por mim própria, a fazer as minhas escolhas e tomar as minhas decisões. Aprendi a ser realmente eu.
Acima de tudo, cresci. E isso foi o melhor de tudo.

24.6.10

Petição contra o encerramento da Biblioteca Nacional

Durante os últimos dois anos a Biblioteca Nacional foi um dos meus locais de estudo, e o seu acervo foi a principal base dos meus trabalhos. No próximo ano iria ser, da mesma forma, o meu local de estudo, mas num momento diferente da minha vida, o mestrado. Em Outubro a Biblioteca vai começar o seu encerramento progressivo, para obras de remodelação, estando encerrada até Agosto de 2011.
Não me oponho de forma alguma a essas obras, são mais que necessárias. Oponho-me, isso sim, ao seu encerramento total, uma vez que parte das obras lá guardadas são exemplares únicos que não se encontram em mais nenhuma biblioteca pública do país, ou quando se encontram estão, em muitos casos, a 200 ou 300 kms. Tendo em conta que nem toda a gente tem a possibilidade de ir uma vez por mês ao Porto ou a Braga para consultar um livro, acho que seria mais correcto fazer um encerramento faseado, nunca fechando totalmente para não impossibilitar a consulta desses volumes, já para não falar da importantíssima secção de reservados, esses sim inexistentes em qualquer outro lugar.
Deixo aqui o link e o texto da petição contra o encerramento da Biblioteca Nacional, disponível na internet, e peço a todos que assinem, por tudo o que este encerramento acarreta.

No passado dia 8 de Junho de 2010 a direcção da Biblioteca Nacional de Portugal [BNP] anunciou que os serviços de Leitura Geral da Biblioteca encerrarão durante dez meses (de 15-11-2010 a 01-09-2011) e os Reservados durante cinco meses (01-04-2011 a 01-09-2011). Como cidadãos e utilizadores da BNP, embora conscientes das inequívocas vantagens inerentes à ampliação do edifício de depósitos da biblioteca, consideramos o planeamento dos trabalhos estipulado inaceitável e solicitamos que seja repensado.

O encerramento durante quase um ano de uma instituição que detém colecções sem alternativas (Secção de Reservados, espólios do Arquivo de Cultura Portuguesa Contemporânea, Secção de Periódicos por exemplo) é incompatível com o prosseguimento da actividade científica de largas dezenas de estudantes e investigadores que necessitam desse material.

A indisponibilização dos acervos da BNP comprometerá a viabilização de projectos em curso, muitos deles com financiamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior ou de outras instituições, e porá em causa o cumprimento de calendários e compromissos académicos estabelecidos. O encerramento de uma instituição como a Biblioteca Nacional teria, no mínimo, que ser publicamente comunicado com um ano de antecedência para que as várias partes envolvidas (universidades, instituições de financiamento, estudantes, investigadores) pudessem planear o seu trabalho em função desses dados. É inadmissível que uma determinação deste género seja comunicada apenas com cinco meses de antecedência.

Por outro lado, acreditamos que seja possível levar a cabo os trabalhos de transferência dos fundos de forma faseada, de modo a evitar um encerramento integral tão longo. Independentemente de existirem outras bibliotecas com Depósito Legal, é do conhecimento geral que para uma parte substancial do acervo bibliográfico e documental da BNP não existem alternativas nem em Lisboa nem em nenhuma outra biblioteca ou arquivo do país. Pelo que é absolutamente incompreensível que se proponha que este acervo único permaneça inacessível durante 10 meses.

Solicitamos pois que se proceda a uma reconsideração do plano de transferência, no sentido de:
1) se atrasar o encerramento da BNP para depois de Junho de 2011, para dar um mínimo de um ano de antecedência ao anúncio
2) fasear os trabalhos de modo a reduzir o tempo de encerramento integral dos referidos núcleos da BNP.

19.6.10

Marcha Orgulho LGBT 2010


E pronto, mais uma marcha que passou. Desta vez foi melhor, porque eramos mais, e porque além de lutar estávamos também a celebrar os direitos que hoje nos são garantidos. Mas falta muito, falta mudar leis, falta mudar mentalidades. Falta, como disse um dos representantes das associações presentes, termos orgulho todos os dias e não só uma vez por ano.

12.6.10

"Que horror, essas famílias degeneradas que são felizes e casam por amor e amam os filhos porque desejam e não por acidente, está tudo perdido!"

Já para aqui disse que gosto muito da Inês Pedrosa, tanto dos seus livros como as suas crónicas, que reflectem a sua opinião pessoal. E mais uma vez essa opinião pessoal é em quase tudo semelhante à minha, por isso aqui transcrevo o texto na íntegra:

O preconceito contra os homossexuais

E os poligâmicos? - perguntam, à falta de melhor, os preconceituosos.

A visita do Papa parece ter gerado em índoles esmorecidas a fantasia de que Portugal seria uma sucursal do Vaticano. O frenesim de intelectuais que matutavam se deviam ou não beijar a mão ao senhor (pergunta, afinal, desnecessária, que a mão papal é mais inacessível do que pode parecer), os ateus subitamente enlevados com a beleza do altar à beira-rio - tudo isso terá criado na Igreja Católica a tentação de comentar as leis da nação civil. Assim, D. José Policarpo apareceu a criticar a aprovação do diploma pelo Presidente da República, dizendo que se o Presidente tivesse usado o veto "ganhava as próximas eleições". Temos pois o cardeal-patriarca a exercer as funções de politólogo. E alguns sectores católicos da Direita tocaram a reunir para a vingança, procurando um candidato alternativo a Cavaco Silva. É tempo de lembrar algumas verdades cristãmente chãs a estes católicos alvoroçados: em primeiro lugar, a vingança é um acto feio e, em geral, de infaustos desenlaces (mesmo na vida terrena - porque em termos de vida eterna é um desastre); em segundo lugar, ninguém impede a Igreja Católica de proibir o sagrado matrimónio aos homossexuais: isso é uma questão que os homossexuais católicos terão de resolver consigo mesmos ou com a sua Igreja; em terceiro lugar, numa sociedade democrática e laica a vida privada de cada um é com cada qual, e não cabe ao Estado decidir a organização das famílias. E não, santas almas, a poligamia não colhe - para começo e fim de conversa, porque não é um sistema democrático.

O que choca uma parte dos católicos (porque nem todos são assim; há-os tolerantes e respeitadores do amor dos outros, independentemente de sexos) e também os sectores da sociedade mais agarrados ao cobertor da tradição é a possibilidade de se constituírem famílias em que os progenitores não correspondam aos convencionais papéis de pai e mãe. Como explica Teresa Pizarro Beleza no excelentíssimo prefácio ao livro de São José Almeida "Homossexuais no Estado Novo" (edição Sextante): "A habitualmente indiscutida complementaridade dos sexos feminino e masculino esconde mal uma diferenciação vertical, de primazia... e de autoridade. O casamento foi, até hoje, se excluirmos a prática da escravatura, a forma mais perfeita de domesticação e subordinação das mulheres". O estudo agora publicado sobre o "Homicídio Conjugal em Portugal", realizado por Elza Pais, conclui que a percentagem de cônjuges assassinados aumentou, na última década, mais de 40 por cento - sendo que as percentagem de mulheres que assassinam os maridos baixou em 5 por cento. Sabemos também que a grande maioria dos abusos sexuais acontecem dentro da família - designadamente, de pais sobre filhas ou filhos. Como é possível que saibamos tudo isto e continuemos a pensar na família tradicional como o paraíso na terra? Como é possível que saibamos tudo isto e continuemos a discriminar as pessoas em função da sua orientação sexual? Como é possível que pessoas que se arrogam defensoras de valores morais, acumulando a esses valores princípios políticos e económicos liberais, pretendam regulamentar a vida dos outros a partir das práticas sexuais? O amor não dirá nada a estes carnalíssimos espíritos?

No prefácio ao livro de São José Almeida - uma obra fundamental para percebermos os guetos para que foram empurrados os portugueses que se apaixonam por pessoas do mesmo sexo - escreve ainda Teresa Pizarro Beleza: "A seguir, dizem os alarmados cidadãos moralizadores, virá a adopção, a perfilhação, a filiação. Mas é claro que virá, isto é, por acaso até já veio. E porque não haveria de vir? Porque as crianças têm forçosamente de se habituar à hierarquia de género, à violência conjugal e à autoridade marital? Quem deu à Psicologia a autoridade científica para estar tão segura da bondade da tríade pai-mãe-filho? A enorme violência que as famílias 'normais' afinal albergam não fará as pessoas bem-intencionadas duvidar de tais arranjos sociais?". Como terão sobrevivido as crianças criadas por pais viúvos, ou por tias e avós, sem os tais "modelos" (e que modelos...) do feminino e do masculino? Será melhor que as crianças cresçam sem adultos aos quais possam chamar seus, numa instituição?

As crianças têm direito a saber de quem descendem biologicamente, claro - trata-se de uma evidência de mero bom-senso, até do ponto de vista da saúde. Mas essa é uma questão que se deve pôr para todas as adopções e inseminações: não colhe como argumento para excluir os homossexuais. Foi-lhes finalmente concedido o direito a assumir as suas famílias - que isso incomode outras famílias, ou possa ser considerado fracturante, eis o que não entendo..

Texto publicado na edição da Única de 5 de Junho de 2010

7.6.10

Venham moralistas e beatas, abomináveis homens das neves e isildas pegados, o que interessa é que somos felizes.

Hoje, Teresa Pires e Helena Paixão casaram. Dou-lhes os meus mais sinceros parabéns, pela coragem que tiveram de enfrentar uma sociedade que as discriminou, e mesmo assim lutarem por um amor que desejavam oficializar.