1.2.12

Do direito ao lazer, e à ignorância

Parece que alguns feriados vão acabar. Dois ditos civis e dois ditos religiosos. Sobre estas definições pouco correctas, nem vale a pena falar. Num país que se diz laico, feriado é feriado, ponto final, não há civil nem religioso. Se existem feriados cuja origem tem um significado religioso, existem; e se isso é contraditório, claro que é. Mas de contradições vive este país.
Os dois feriados ditos civis alegadamente escolhidos para a forca são o 1º de Dezembro e o 5 de Outubro.
Ao acabar com o 1º de Dezembro, "dia da restauração da independência", o único problema é virem tarde. Sim, por muito que os nacionalistas e anti-espanhóis arranquem as vestes, Portugal nunca perdeu a independência. Filipe II era o legítimo sucessor ao trono, e isso é coisa que se descobre a ler qualquer livro minimamente credível de história de Portugal. Havia um António, mas era bastardo; havia uma Catarina, mas era mulher (e por muito que, como feminista, isso não me agrade, como historiadora tenho de saber não ser anacrónica); Filipe era o candidato mais viável. o 1º de Dezembro de 1640 foi na realidade uma usurpação do trono por um grupo de aristocratas descontentes, porque lhes tinham tirado o poder.
O que me deixa com uns certos comichões, é porque é que os nacionalistas (incluindo monárquicos) estão tão chateados com o fim do 1º de Dezembro, mas não parecem nada preocupados com o fim do 5 de Outubro. Que, para quem não saiba, tem uma significado muito mais profundo do que a implantação da república. É, ele sim, o dia da independência portuguesa: a 5 de Outubro de 1143 foi assinado o Tratado de Zamora, pelo qual Portugal se tornava um reino independente de Espanha, tendo como soberano D. Afonso Henriques.
Tirarem ou não os feriados interessa-me tanto como coisa nenhuma. Mas que ao menos saibam ser rigorosos quando se trata de História.