21.7.10

Publicidade institucional (e já agora, "puxando a brasa à minha sardinha"...)

Na próxima sexta-feira, dia 23 de Julho, pelas 17h30, vai ser inaugurada a exposição Corpo - Estado, Medicina e Sociedade no tempo da I República, integrada nas Comemorações para o Centenário da República. O tema abordado, como o próprio nome indica, é a medicina durante a I República, com especial ênfase para a visão tanto do Estado como da sociedade em relação a essa actividade. Faço aqui publicidade a este evento, não só por ser interessante a nível cultural para qualquer pessoa, mas também porque eu irei ser uma das guias da exposição.
A entrada é gratuita, localiza-se no Torreão Poente do Terreiro do Paço (do lado do Ministério da Agricultura), e está aberta todos os dias das 10h00 às 18h00. Excepcionalmente no dia da inauguração vai estar aberta até às 22h00; nos dias 5 e 12 de Agosto, em parceria com o Festival dos Oceanos, as exposições do Centenário da República estarão abertas até às 24h00.

Actualização: Na altura esqueci-me, mas não quero deixar de referir a exposição Viajar. Viajantes e turistas à descoberta de Portugal no tempo da I República, a decorrer no Torreão Nascente do Terreiro do Paço, com os mesmos horários que a anterior.

15.7.10

"Parece que até existem vários países no continente africano... Pensava que era só uma massa de gente esfomeada... E alguns até são ricos*!"

Sou uma pessoa extremamente complicada, muito exigente comigo e com os outros. Isso tem consequências, nem sempre boas, mas a minha persistência por vezes tem bons resultados. E uma das coisas que mais irritação me causa na sociedade actual é a incompetência e o laxismo. Se qualquer pessoa decide fazer qualquer coisa, seja ela boa ou má, então que a faça de forma competente e eficaz. Podemos ir ao exemplo mais radical: se queres ser um criminoso, e não estou aqui para julgar os valores ou princípios éticos, então que sejas um criminoso competente.
Este prólogo vem para explicar a minha opinião, de uma forma muito geral, sobre um caso particular, as atitudes nacionalistas, e mais precisamente, a música que foi utilizada como “hino” do Campeonato Mundial de Futebol de 2010, realizado na África do Sul. Faço já a minha declaração de interesses: sou anti-nacionalista, por princípio ético e ideologia política, seja o nacionalismo extremista xenófobo de “esses estrangeiros deviam era ir para a terra deles em vez de estar cá a roubar”, seja o nacionalismo de “todos os cidadãos têm de gostar da selecção nacional”. Mas reforço a ideia de que se deve ser competente em tudo o que se faz ou é, seja isso bom ou mau.
Depois de alguma pesquisa descobri que a música em questão foi, originalmente, uma marcha de homenagem aos soldados do exército dos Camarões que participaram na Segunda Guerra Mundial, chamada Zangaléwa, e também conhecida como Zamina mina, interpretada pelo grupo Golden Sounds, eles próprios membros do exército dos Camarões. Era cantada na língua fang, da África Central, e numa tradução muito mal feita podia ser vista como uma música de incentivo.
E o que é que a organização do Mundial decidiu fazer (aqui fiquei sem saber se esta decisão foi tomada pela organização da África do Sul ou pelo comité da FIFA)? Utilizar uma marcha do exército dos Camarões, mudar a letra para inglês (também existe uma versão em espanhol) e terminar com uma cantora colombiana. Onde é que encontramos a África do Sul aqui no meio? Não encontramos, porque infelizmente existe aquela visão paternalista que a grande maioria dos europeus e norte-americanos tem do continente africano: são um conjunto homogéneo de coitadinhos, caçadores recolectores que ainda vivem em cabanas e precisam de ser civilizados. Podemos representar a África do Sul, usando uma música dos Camarões, que são na outra ponta do continente, cantada em inglês, a língua do país que os dominou e humilhou durante séculos, e cantada por uma colombiana, que caiu ali do nada.
Tendo em conta o nacionalismo que existe na África do Sul, e que é muito forte, seja o nacionalismo dos indígenas africanos ou o nacionalismo dos afrikaners descendentes dos colonizadores mais tardios, seria de exigir, no mínimo, que fossem capazes de defender as raízes culturais do país em que vivem, ou seja, que fossem competentes até na pior das coisas.
* Apenas como exemplo, o PIB total da África do Sul é muito maior que o de Portugal, estando posicionados, a nível mundial, em 25º e 50º lugares, respectivamente.

1.7.10

"É que uma pessoa pode viver bem sem comer, agora sem a vinhaça e a cigarrada é que não!"

Hoje entram em vigor as alterações nos impostos. Também não me agrada muito, mas não é exactamente isso que me traz aqui. O que me leva a escrever foi ter visto há pouco uma entrevista de rua feita para o Jornal da Uma da TVI. O entrevistado era um senhor, na casa dos 50, a quem a jornalista perguntava, tendo em conta o aumento do IVA e a redução dos ordenados, em que produtos iria cortar para conseguir manter um orçamento mensal razoável. E sai a bela da resposta (cito de memória): "Bem, vou cortar na alimentação, no vestuário, e estou a pensar começar a cortar no tabaco."
Sou eu que ando a ver mal ou isto é de uma estupidez que nem tem descrição possível? Primeiro corta-se na alimentação, que é o mais essencial de tudo, depois no vestuário, que também tem alguma importância, apesar de ser muito menor, e só depois se reduz o consumo de tabaco, que, sejamos realistas, só serve para destruir o corpo, ter mau hálito ou incomodar os outros com o fumo e o cheiro?
Depois admiram-se que Portugal tenha das taxas de poupança mais baixas da Europa. E das taxas de mortalidade por cancro do pulmão mais altas.