29.11.09

"Homem mata a tiro a mulher e militar da GNR"

A semana passada a lista ia em 25 mulheres mortas pelos maridos, namorados ou companheiros. Não sei quantas mais morreram entretanto. Hoje, voltou a acontecer. Não há comentários possíveis a fazer.
Aqui está tudo o que eu gostaria de ter escrito sobre isso.

28.11.09

"Has legalized same sex marriages led to more homossexuals? I think that in the Broadway it has."

Tenho a infelicidade de não fazer parte da parte da população possuidora de tv cabo, ou satélite, ou lá como se chama. Por isso quando dou de caras com um programa transmitido nesses canais fico como um burro a olhar para um palácio, completamente embasbacada. Mas neste caso não pude. A minha defesa dos valores da sociedade, o meu conservadorismo não me permitem. Porque, como diz o senhor no final do vídeo, that is disgusting!
The Daily Show With Jon StewartMon - Thurs 11p / 10c
Mass. Hysteria
http://www.thedailyshow.com/
Daily Show
Full Episodes
Political HumorHealth Care Crisis



(visto aqui)
(por favor leiam isto como ironia, como é óbvio eu não concordo com aquele senhor paspalho que diz que a qualidade de vida piorou com a aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo)

25.11.09

Dia internacional pela eliminação da violência contra a mulher

Hoje, 25 de novembro, é o dia internacional pela eliminação da violência contra a mulher. A semana passada morreram três raparigas portuguesas, assassinadas pelos próprios namorados. É irónico. Tristemente irónico.
Felizmente nunca fui vítima de violência numa relação, e por isso não entendo. Não entendo as raparigas e mulheres (e homens, porque os há, mas em percentagem reduzida) que são agredidas, seja física ou psicologicamente, e se calam. Não entendo as mulheres que aguentam anos de maus tratos, maus tratos esses que, por vezes, começam na juventude, durante o namoro, e se prolongam. Não me venham dizer que é por causa dos filhos, ou do dinheiro. Os filhos são felizes se os pais se odeiam e maltratam? Duvido muito. E não há dinheiro que compre a dignidade humana.
Não entendo como é que estas mulheres não viram costas ao primeiro gesto, à primeira ameaça. Não tenho moral para falar, é certo. Nem quero ter. Ainda assim continuo a achar que não iria tolerar violência vinda de quem amo.
Nem vou dizer que não entendo a parte de quem agride, porque isso nem tem entendimento possível, é estupidez humana ao mais alto nível.
O que eu também não entendo são as pessoas que sabem de casos de violência doméstica, que por vezes os presenciam, e não fazem nada. Para quem não sabe violência doméstica é crime público: qualquer pessoa que tenha conhecimento de uma situação dessas pode, e deve, fazer queixa às autoridades. Mas não fazem. Porque "entre marido e mulher não se mete a colher". Não fazem porque são pessoas igualmente estúpidas, que gostam de saber que os outros sofrem sem agir. Há uns tempos li um artigo sobre mulheres da "alta-sociedade" (não sei o que isso seja, mas transcrevo) agredidas pelos maridos; as famílias sabiam das agressões, algumas das quais de uma brutalidade indescritível, e não faziam nada. Porque não queriam enfrentar as opiniões dos outros. Porque as opiniões alheias são sempre mais importantes que a felicidade própria.
Tenho pena. Tenho pena das mulheres que vivem situações dessas e cujo medo as paralisa, que não conseguem escapar a esse ciclo de violência. Tenho pena dos filhos que assistem a essa violência. E tenho nojo, tenho muito nojo, da sociedade que continua a tolerar estes comportamentos.
E para quem continua a achar que é a ordem das coisas, "sempre foi assim, é assim que deve ser", fica aqui a lista de mulheres assassinadas pelos maridos, namorados ou companheiros, só este ano.

17.11.09

Debate sobre o referendo do casamento entre pessoas do mesmo sexo

(Aviso: quem não tem paciência para textos longos é melhor ficar por aqui. Este vai ser bem longo.)
Ontem foi transmitido na RTP1 o debate Prós e Contras, sobre o tema “Casamento homossexual: a referendar?”. Eu não pude ver em directo, mas a minha namorada, que é uma querida, gravou, e vimos hoje (obrigado, amor). Uma parte de mim tinha decidido não ver este debate, porque já sabia que ia ficar com a úlcera a latejar. Mas a outra parte, que acabou por vencer, gosta de se manter informada sobre este e outros assuntos e, mais ainda, é irremediavelmente curiosa.
Ouvi muita coisa. Muitas coisas com as quais concordei, muitas coisas com as quais discordei. Vi pessoas que muito admiro a defender as suas ideias; vi pessoas que não conhecia ou por quem não nutro qualquer admiração dizer puras barbaridades.
Antes de mais, houve um pormenor que me deixou logo com urticária: “casamento homossexual”. Esta expressão, que não sei quem foi a besta ortográfica que inventou, foi usada como título do programa. Mal usada, porque o casamento não é homossexual. O casamento é um contrato celebrado entre duas pessoas, que lhes concede uma série de benefícios e implica uma série de responsabilidades. Durante o debate, reparei que eram os membros do grupo contra a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo (é assim que se diz), e a favor do referendo, quem usava essa expressão. Os membros do grupo contrário, a favor da legalização do casamento e contra o referendo, falavam correctamente. E gostei disso.
Comecei por ver Ribeiro e Castro afirmar que, segundo a Declaração Universal dos Direitos do Homem, “a família é a célula fundamental da sociedade”; é verdade. Mas sinceramente, na minha humilde opinião, não vejo em que é que a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo afecta, seja de que forma for, a família.
O mesmo senhor usou mais que uma vez a expressão “sempre foi assim, é assim que deve ser”. Ora seguindo esse raciocínio, os africanos sempre foram escravizados, as mulheres sempre foram subjugadas aos homens, os trabalhadores sempre foram maltratados pelos patrões, e é assim que deve ser (sublinho que esta não é, evidentemente, a minha opinião). Esta lógica é, para começar, estapafúrdia e, para acabar, profundamente preconceituosa.
Depois surgiu, vindo da mesma pessoa, a frase que para mim foi o momento alto da noite: “a relação da família não tem nada a ver com afectos”. O senhor tentou desmentir que esta estupidez lhe tinha saído da boca, mas teve a infelicidade de ficar gravado, e de ter tido milhares de testemunhas. Ah, com que então a família não tem nada a ver com afectos. Pois, faz sentido. Não há pais que gostem dos filhos. Não há casais que se amem. Não, isso é tudo um mito.
Depois apanhei uma frase também fantástica, ainda de Ribeiro e Castro: “o casamento não tem só a ver com quem casa, tem a ver com terceiros”. E isto é outra coisa que eu não fazia ideia. Eu podia jurar que quem decidia se e porquê casava eram quem casava, mas pelos vistos estou profundamente errada. É que antes de casar eu tenho de ir perguntar à cidade toda o que têm a dizer da questão. Pois claro, eu preciso de saber a opinião do senhor da padaria.
Outro brilharete veio de Pedro Picoito, que chamou à defesa da legalização do casamento uma “reivindicação identitária tribal”, dito em tom pejorativo. Outra completa novidade para mim, pelos vistos faço parte de uma tribo e nem sabia.
Nem me vou referir às várias declarações de Jorge Bacelar Gouveia, porque foram simplesmente inomináveis, de uma homofobia pavorosa.
Para terminar a análise das declarações do grupo do sim ao referendo, falou Isilda Pegado. Ora a teoria é: o supremo interesse da criança justifica a discriminação na possibilidade de adopção por casais do mesmo sexo. Perceberam? Traduzindo, os homossexuais não sabem educar correctamente uma criança. É isto que a senhora defende. Os homossexuais não sabem dar amor, carinho, uma casa, uma família, a uma criança. Inacreditável.
Ao grupo do não ao referendo, não tenho críticas a fazer. Concordo com eles, ponto por ponto. Surpreendi-me pela positiva com as afirmações de Jorge Lacão. Aprendi com as referências jurídicas de Isabel Moreira. Vibrei com as declarações de Miguel Vale de Almeida. Admirei todos os outros, Gabriela Moita, Paulo Côrte-Real, Heloísa Apolónia, a representante da AMPLOS, o representante da Novos Rumos, e aqueles que agora me falham. Mostraram que não se pode pretender referendar direitos, que não se pode pretender usar esse argumento para disfarçar preconceito, mostraram como este tema é, mais que actual, uma coisa que nunca deveria ter sido sequer discutida, porque já deveria de fazer parte das leis há muito tempo.
Agora a minha declaração de princípios: sou homossexual; sou a favor da legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo; sou contra o referendo, mas votarei caso este seja feito, e votarei pela legalização; e tenciono um dia casar.

Ficam aqui os links da Declaração Universal dos Direitos do Homem (artigo 16.º) e da Constituição Portuguesa (artigo 13.º), que foram referidos várias vezes.

9.11.09

Como diria o padre presidente de não sei o quê "Meuzzz filhozzz, fuzzzam dozzz gayzzz"

"O casamento entre pessoas do mesmo sexo é um direito que deve ser reconhecido por uma sociedade que defende a igualdade e rejeita a discriminação. É um passo em frente num país que progressivamente se liberta de preconceitos e evolui no sentido da tolerância. Não existe entre nós um consenso sobre a questão, como é sabido. Mas é importante que o debate seja elevado. E que decorra no local adequado, que é o Parlamento e não o referendo. Foi um tema da campanha eleitoral e é aos deputados que compete legislar."
Lido hoje no Editorial do Público
Minhas gentinhas que se arrastam por esse país fora com as suas cabeças cheias de teias de aranha, saudações a Salazar e outros saudosismos afins, custa muito entender estas frases? Custa? Custa muito legalizar o raio do casamento? Deixem-se de tretas e deixem os outros ser felizes.

O muro de Berlim caiu há 20 anos


Faz hoje 20 anos que caiu o muro de Berlim. Eu era nascida mas não tenho idade para me recordar disso: não assisti pela televisão àqueles momentos, não senti que alguma coisa mudava, não vi que começava uma nova era. Sei o que aprendi na escola, mal e porcamente, sei o que vejo agora na televisão, o que leio.
Mas não entendo. Não entendo que mentes, por muito que pertencessem a outra época, a outra cultura, a outro contexto histórico, que mentes perversas foram essas, que decidiram dividir uma cidade e, simbolicamente, o mundo, a meio. Houve famílias separadas durante os 28 anos da sua existência, desde a madrugada de 13 de agosto de 1961 até à madrugada de 9 de novembro de 1989. Pelo menos 80 pessoas foram mortas a tiro enquanto tentavam atravessar o muro.
Por uma discórdia política, não me venham com complicações que a realidade é essa, uns eram capitalistas, os outros socialistas, por uma questão de não concordar com as ideias do "vizinho" construiram um muro de não sei quantos quilómetros, dividiram o país e a Europa a meio, mataram quase uma centena de pessoas, feriram tantas centenas. Não entendo gente assim.
(imagem da construção do muro em 1961)

8.11.09

Declarações de amor incomuns

Percebo que a minha namorada está realmente viciada no farmville quando ela entra à socapa na minha conta do facebook e faz isto:(a qualidade não é grande coisa porque mexer em imagens não é a minha especialidade)

Pode ser estranho, e um bocadinho piroso. Mas eu gosto, é querido, é carinhoso. E eu gosto muito dela, e isso é que interessa.

"Amor, queres piaçaba comigo?"

Estou cansada da polémica que andam a criar à volta da legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Não é cansada. É farta. Já não é só cansaço, é uma coisa muito mais funda, que provavelmente em pouco tempo me irá causar uma úlcera duodenal. Estou farta da burrice dos argumentos, estou farta das ideias mesquinhas de gente que acha piada manter a infelicidade dos outros, estou farta dos portugueses em geral e de uma boa parte em particular.
Agora vem aí uma multidão dizer "mas toda a gente tem direito a ter opiniões diferentes, temos de as respeitar". Pois é, toda a gente tem direito a opiniões diferentes. Tenho pena que haja quem não veja que as suas opiniões são estúpidas e sem fundamentos, mas mesmo assim têm direito a tê-las; e eu respeito-as: por isso é que ainda não dei um murro nas trombas de quem me vem com a conversa homofóbica, porque respeito as opiniões diferentes.
Mas da mesma maneira que haja quem tenha direito de dizer que eu sou uma anormalidade, que se casar vou deitar abaixo a "instituição" do casamento, que mereço ser infeliz (já para não falar de quem secreta ou publicamente defende que os homossexuais deviam ser fuzilados), eu tenho o direito de dizer que essas pessoas têm ideias saídas da Idade Média, fundamentadas nos dogmas incomprováveis da Igreja Cristã, e que uma pequena análise lógica e científica rebate facilmente.
Mas essas ideias, essas pessoas, magoam. Claro que magoam. E é isso que me cansa, que me farta. Eu não sei se vou casar. Houve uma altura da minha vida em que disse que isso não iria acontecer. Depois conheci alguém com quem até gostaria de casar. Para mim o casamento é um contrato celebrado entre duas pessoas que garante direitos e implica deveres. Mas pela primeira vez na minha vida vejo que pode também ser uma prova de amor. E eu gostava de dar essa prova de amor.
Vi num comentário a um post de outro bolg uma senhor dizer que gostava de pedir o companheiro em casamento, e não ter de lhe perguntar se ele queria "celebrar um contrato de união de facto com direitos similares ao casamento comigo", algo assim. Concordo totalmente. Nem vou falar da parte do dêm-lhe outro nome, porque para mim isso é pura estupidez. E não vou falar de mais nada.
Estou cansada desta gente, estou cansada deste país, estou cansada de quem defende que se referendem direitos. Quero os meus direitos, e quero casar com quem amo. Ponto final.

5.11.09

"Remember, remember, the 5th of november..."

Não me lembrava que dia era hoje. Calhei a ver o título de um post de um blog onde se referia o dia. E decidi "puxar a brasa à minha sardinha", para usar uma expressão muito portuguesa. Ou seja, decidi falar de História.
Hoje é dia 5 de novembro. Passaram 404 anos desde que, na noite de 5 de novembro de 1605, um grupo de conspiradores tentou fazer explodir o Parlamento em Londres, assassinando uma parte dos lordes e o rei Jaime I. Esse acontecimento ficou conhecido como a Conspiração da Pólvora (a página que aqui fica está em inglês porque a página em português é uma bela de uma porcaria, e sim, eu sei que não se deve usar a wikipedia, mas é o que tenho à mão). Perguntam vocês porque é que isto merece ser relembrado. O que torna especial essa conspiração, que acabou por falhar, é o seu motivo.
A Inglaterra era protestante desde 1534; desde essa altura os reis tinham alternado entre católicos e protestantes, mas Jaime I era profundamente protestante, reprimindo brutalmente os católicos. Os conspiradores de 1605, liderados por Robert Catesby, pretendiam pôr no trono a filha do rei, que seria religiosamente tolerante. O seu plano falhou porque, nessa noite, quando Guy Fawkes estava a terminar a tarefa de pôr os explosivos nos alicerces do edifício do Parlamento, um grupo de guardas apanhou-o. Tanto ele como os restantes conspiradores foram julgados e condenados à morte por enforcamento.
Mas tentaram. Lutaram por aquilo em que acreditavam. É claro que era um mundo diferente, muito diferente daquele em que vivemos. Mas ainda assim, a lógica principal mantêm-se. Lutar por aquilo em que acreditamos.

E já agora, porque acho bonito, fica aqui uma rima popular criada na época sobre a Conspiração de Guy Fawkes:
"Remember, remember, the 5th of November
The gunpowder, treason and plot;
I know of no reason, why the gunpowder treason
Should ever be forgot."


E para quem não tem paciência para História porque acha uma seca, vejam o filme V for Vendetta, de James McTeigue, com Natalie Portman e Hugo Weaving, que trata desse tema de uma forma diferente, e que é um dos melhores filmes que já vi.