30.3.10

"Não se pode isto, não se pode aquilo, ai a moral e os bons costumes. Mas afinal parece que somos os piores."

Eu não sou católica, apesar de ser baptizada. Não sou, e acho que nunca fui. Não tenho fé em qualquer deus, e ponho em causa a sua existência. Sou agnóstica ateísta, para arranjar um rótulo. Mas admiro muito as pessoas que têm fé, seja ela qual for; invejo-as mesmo.
Mas nunca consegui entender a parte material, seja da Igreja Católica, seja de outras. O porquê da existência de uma hierarquia, de locais de culto tão luxuosos, o porquê de fortunas enormes, de poder institucional e financeiro tão grande que nem se sabe a sua total dimensão. Se é a fé que salva, então para que é que serva a riqueza?
E depois há tudo o resto. Os séculos de maus tratos e tortura a quem não partilhava as mesmas convicções. A Inquisição, o domínio do homem sobre a mulher, a defesa dos ideais da pobreza, do sofrimento, da dor. Perdoem-me, mas eu acho que toda a gente devia ser feliz.
E agora vem a público o que já se sabia há tantos anos. Eu sempre ouvi falar de padres que tinham um especial gosto por crianças pequenas. Nunca conheci casos pessoalmente, mas tenho a sensação de que era algo socialmente aceite. Agora as denúncias sucedem-se, tanto no estrangeiro como em Portugal.
Qual seria a melhor atitude a tomar pela instituição? Na minha humilde opinião, pedir desculpa. Pedir muitas desculpas por todo o mal que fizeram a essas crianças. Pedir desculpa por terem encoberto milhares de crimes de abuso sexual. Mas o que é que a instituição decidiu fazer? Dizer que se trata de uma conspiração para tirar poder ao Papa e à Igreja. Melhor ainda, o cardeal português José Saraiva Martins, que é só um dos membros da Igreja com mais poder, diz o seguinte: "É um pretexto para atacar a Igreja. Não devemos ficar demasiado escandalizados se alguns bispos sabiam e mantiveram o segredo. É isso que acontece em todas as famílias. Não se lava a roupa suja em público". Com que então não devemos ficar escandalizados perante o encobrimento de milheres de abusos sexuais. Não devemos ficar escandalizados perante o sofrimento infligido a milhares de crianças, muitas com graves problemas financeiros, que dependiam totalmente da Igreja Católica.
Esta instituição espera ser respeitada. Espera que a sociedade civil acate as suas ordens como se fossem cordeirinhos, em assuntos tão importantes como o uso do preservativo, o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, a emancipação da mulher. Mas esta instituição nunca respeitou ninguém, nem parece estar agora a começar a fazê-lo.

8.3.10

Dia da Internacional da Mulher (ou, devo dizer, o único dia em que as mulheres são seres humanos)

Tenho percebido, nos últimos tempos, que lido mal com a chamada discriminação positiva. Entendo que em parte seja necessária, que o seu objectivo é, em última análise, a igualdade, mas pretender lutar pela igualdade implementando desigualdade deixa-me reticente.
O que me leva ao assunto da discriminação positiva é o dia que hoje se celebra. Hoje, 8 de março, é Dia Internacional da Mulher. Não me vou dar ao trabalho de dissertar sobre a história desse dia, nem tudo o que lhe está associado. O essencial é que o objectivo deste dia era recordar todo o sofrimento pelo qual as mulheres passaram e passam, e tudo aquilo que já conseguiram conquistar. Eu entendo isso. Mas, sendo assim, há um dia para a mulher, e os restantes 364 do ano são para o homem. Neste dia, tal como em outros que actualmente são quase exclusivamente comerciais ( dia dos namorados, dia da mãe, etc), as pessoas fazem um esforço, dão uma flor, são simpáticas, e amanhã voltam a ser as mesmas bestas de sempre.
Durante um dia, num ano inteiro, a sociedade lembra-se que as mulheres já sofreram horrores pelo simples facto de nascerem mulheres. Que hoje, no século XXI, as mulheres continuam a não receber salários de acordo com as suas funções, mas sempre mais baixos que os dos homens com as mesmas capacidades, que continuam a ser rejeitadas para cargos para os quais têm completa competência, simplesmente porque não mulheres. Durante um dia, 24 horas, a sociedade lembra-se disso. E depois esquece, e volta a cometer os mesmos erros, os mesmos maus tratos, a mesma discriminação, dia após dia.
Por isso, e por muito mais, eu não gosto do dia da mulher, e não sou, nem serei melhor pessoa nesse dia, do que sou nos restantes dias do ano.