21.11.10

Não fazia ideia que o Atlântico Norte era tão grande que chegava à Grécia... e à República Checa... mas a República Checa nem tem mar!

Houve uma cimeira. Uma cimeira de uma organização chamada Organização do Tratado do Atlântico Norte, fundada no período da Guerra Fria com o objectivo de "manter os Russos fora, os Americanos dentro, e os Alemães em baixo". Ou seja, uma organização cujo nome não faz sentido, porque a grande maioria dos membros já não são sequer países do Atlântico, quanto mais norte, e cujo objectivo já não faz sentido, porque a Guerra Fria acabou há 20 anos. Eu, que nunca me calo, tenho de analisar os "prós" e os "contras" desta coisa. Vamos fazer ao contrário e começar pelos contras.

Contras:
- uma tolerância de ponto que envergonha qualquer pessoa com um mínimo de responsabilidade cívica;
- constrangimentos na circulação rodoviária e pedonal, assim como de transportes públicos, não só no local da dita cimeira como em outros locais da cidade;
- reposição temporária das fronteiras e consequente falha no Acordo de Schengen, que é só um dos documentos que faz a União Europeia ter sentido. Ou seja, nestes dias, a União Europeia teve um país a menos;
- compra de material militar extremamente importante para este acontecimento que, ups!, não chegou a tempo. Como se não fosse mais que comum atrasos em Portugal;
- recusa de entrada no país de pessoas que tinham, e cito, roupa preta. Sim, ter roupa preta era justificação para não entrar no país. Eu estava lixada, tinha de ficar em Espanha à espera que isto acabasse;
- detenção de manifestantes porque estavam, e esta é mesmo de rir à gargalhada, a manifestar-se. Foram presos porque estavam a manifestar-se. A maior parte dos detidos era espanhol. Cheira-me à antiga rivalidade luso-espanhola.

Prós:
- chefes de Estado vieram a Portugal. Espera, qual é a vantagem disto? Não trouxeram turistas, logo não há dinheiro. Não vieram comprar nada, logo não há dinheiro. Hum, pelos vistos terem vindo não serviu de muito;
- vieram arranjar um "conceito estratégico". Achei a frase bonita. Fui informar-me. A única coisa que fizeram foi arranjar um conceito que justificasse as invasões de países alheios que têm feito nos últimos anos. Ah, espera, pensei que vinham modernizar a organização, afinal só vieram justificar as mortes que têm causado.

Agora somamos prós e contras... O resultado não me parece grande coisa... Parece que isto foi só uma desculpa para o governo português se exibir, dizendo que estava a receber chefes de Estado importantíssimos e a fazer uma coisa importantíssima. Mas na verdade...

15.11.10

Trabalhar para o Estado é que é: sem ordenado, sem contrato, assim é que se quer!

Eu não me esqueci do Centenário da República, a 5 de Outubro, nem podia esquecer. E tinha feito planos para falar da importância histórica desse dia (assim como dos que o precederam e dos que se seguiram). Mas para falar do 5 de Outubro, tinha de falar da forma como a actual república tratou aqueles que para ela trabalharam no âmbito das comemorações. E a verdade é que tinha medo de falar e não receber o ordenado.

COMEMORAÇÕES DO CENTENÁRIO DA REPÚBLICA COM CONTRATAÇÕES ILEGAIS E PAGAMENTOS EM ATRASO

Contratos ilegais nas Comemorações do Centenário da República

Sim, isto é verdade. As exposições inauguraram no dia 23 de Julho, os contratos foram assinados com data de 15 de Outubro, e os recibos verdes passados com a mesma data. Durante 3 meses os guias não receberam um cêntimo, não tiveram forma de comprovar que estavam a trabalhar, não tiveram direitos nenhuns. Como se já não bastasse estar a trabalhar a recibos verdes, ou seja, não ter quaisquer garantias, esses recibos verdes nem sequer eram decentemente usados, e ver dinheiro a tempo e horas era mentira. Fomos falsos recibos verdes. Fomos forçados a cumprir horários, usar farda e trabalhar num posto determinado pelos coordenadores, o que contraria as regras mais básicas da prestação de serviços a recibos verdes. Fomos forçados a pagar do nosso bolso o seguro de acidentes de trabalho, sim, porque nem isso o Estado se digna a pagar. Mas não teve problema algum em pagar milhares de euros por construções mal feitas, grafismos mal feitos, em geral trabalhos mal feitos. Vejam no site do ajuste directo.


Eu vi o pagamento hoje. Hoje, dia 15 de Novembro! 4 meses depois de ter começado a trabalhar. E estive a pontos de achar que não iria ver pagamento nenhum. A Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República tinha um orçamento de 10 milhões de euros, e foi incapaz de nos pagar a tempo e horas. É triste, muito triste mesmo, ver a forma como o Estado trata os seus trabalhadores. Como é que o Estado espera ser respeitado, se não respeita os seus próprios trabalhadores?
Ah, e a senhora Catarina Portas, que encheu a boca para dizer que os seus funcionários estavam a ser pagos, é uma mentirosa do pior, porque houve funcionários seus que só viram hoje o pagamento de há meses.