14.4.12

Graças a Deus existe liberdade de expressão, senão os idiotas não podiam dizer o que pensam.

De tempos a tempos um jornalista mais ou menos conhecido despeja na sua coluna de opinião textos contra os homossexuais. Como coluna de opinião que é, o autor pode lá falar sobre todos os temas que entenda, e debitar todas as opiniões que tiver. Vivemos segundo um regime de liberdade de opinião, e ainda bem que assim é: tanto esse regime permite ao senhor publicar as suas opiniões no seu jornal (acho interessante essa questão de o senhor escrever opiniões no jornal de que é director, faz-me uns certos pruridos, é um pouco como o sr. Berlusconi ter sido em simultâneo primeiro-ministro e proprietário de metade dos órgãos de comunicação social do país), como me permite a mim publicar aqui, sob anonimato, as minhas opiniões.
E o que me motiva a escrever não é tanto a opinião expressa. Porque acho que não vale a pena falar de parvoíces. É a reacção que ela provocou.
Desde a altura em que foi aprovado o casamento entre pessoas do mesmo sexo que deixei de ler caixas de comentários de notícias relacionadas com homossexualidade, porque a minha azia acordava logo. E azia é uma coisa muito desconfortável. Desta vez espreitei um pouco a medo, já à espera de me saltarem à vista os insultos pouco inteligentes do costume. E o que me chamou a atenção foi uma questão recorrente.
Indivíduo A concorda com o texto de opinião onde são expressas opiniões - que não passam disso mesmo, opiniões - preconceituosas. Indivíduo B não concorda com as referidas opiniões, e classifica-as como preconceituosas. Indivíduo A insurge-se, afirmando que o texto de opinião em lugar nenhum ofende seja quem for (porque para os homofóbicos, insinuar que a homossexualidade é uma doença, ou uma moda, ou o que seja que afirmem, não é insultar os gays) e que o verdadeiro preconceituoso e intolerante é o indivíduo B.
Isto é extremamente interessante. Porque as pessoas que, tal como o senhor jornalista mais ou menos conhecido, acham que o casamento entre pessoas do mesmo sexo é uma ofensa à sociedade, que a adopção por casais do mesmo sexo é pôr em risco a sanidade mental da criança, que a homossexualidade é uma moda e uma desculpa usada pelos jovens para se revoltarem contra os pais, essas pessoas acham mesmo que têm razão. Que o preconceito e a intolerância são justificáveis. E não sei como é que não existem mais estudos sobre a forma como o preconceito domina as mentes de pessoas que eu acredito que possam até ser muito inteligentes. E as torna completamente incapazes de usarem o raciocínio mais básico para chegar à conclusão que não têm nada a ver com as vidas dos outros. Que se eu não lhes aponto o dedo por serem heterossexuais, eles também não têm o direito de me apontar o dedo por eu ser homossexual. Mais ainda, que eles não têm de concordar com a homossexualidade, porque simplesmente não lhes diz respeito. Não se concorda com a sexualidade dos outros, nem se aceita, nem se tolera, nem coisa nenhuma. Se não é a nossa vida, não temos de nos meter no assunto.

1 comentário:

Helena disse...

Concordo a 99%, é mesmo isso. A vida intima dos outros não nos idz respeito, era só o que faltava alguém andar a dar opiniões sobre a minha vida! O 1% que discordo diz respeito a direitos básicos, que têm (TÊM) de existir, como por ex. o casamento entre duas pessoas. O qualinfelizmente não era permitido, felizmente passou a sê-lo. E para isso, foi preciso muita gente emitir opinião (eu também), para que tal acontecesse. Há muitas coisas que deviam ser óbvias mas não o são. Incluem-se no tal 1% em que é necessário dar opinião, porque eu sinto como direito meu, direito básico, ser a favor que duas pessoas (independentemente dos sexos) se possam casar, e isso é concordar com a homossexualidade. Só me sinto no dever de não ter de demonstrar que concordo, quando ninguém tiver o direito a discordar impedindo direitos.