25.2.10

Although everything they might say, I will still marry you

Este é o centésimo post. Podia fazer um texto enorme. Falar sobre muitas coisas que me incomodam, no mundo, nas pessoas. Mas, como a frase popular, uma imagem vale mais que mil palavras.





(clicar na imagem para ver melhor)

21.2.10

Parece que há umas famílias melhores que as outras, uns seres humanos melhores que os outros...

Eu pensei em pôr só o link, mas depois achei que este texto valia cada palavra que a autora escreveu. Por isso, na íntegra, aqui fica.


"O problema é que já não somos coitadinhos

Esta história das veemência de opinião dos que dizem defender a família tem-me feito alguma confusão. Eu percebo que haja formas diferentes de pensar e de sentir as coisas, mas não compreendia a veemência e até o desespero com que muitas pessoas defendiam a exclusividade de direitos a uma certa casta, a deles, claro.

A resposta não me bateu de repente, foi uma coisa que foi crescendo, e que se passou comigo há uns anos. Eu explico.

Grávida de muitos meses mudei-me para a província. Fica a 40Km de Lisboa, mas é Portugal profundo na mesma. Ora, aquela malta, estava fartinha de conhecer mães solteiras (que era o meu caso). Não lhes fazia confusão nenhuma que eu estivesse grávida, sendo solteira, o que lhes fazia muita confusão, era eu não ser coitadinha. Mãe solteira sim, mãe solteira por opção já não percebiam. A minha opção tirava-lhes a oportunidade de poderem ter pena de mim, na sua superioridade moral. Não era a gravidez que lhes colidia com o sistema, era a opção.

Nesta história das "famílias a sério", eu acho que é isso que se passa. Foi retirada a esta gente a possibilidade de se sentirem superiormente morais, porque os outros, que antigamente eram coitadinhos, agora já não são e, heresia, até querem os mesmos direitos e deveres. Então, se querem os mesmos direitos e deveres, nós já não podemos ser superiores. Vai-se-nos o último reduto de superioridade, o moral (que o financeiro e o social já foram há muito tempo).

E é isto que lhes estamos a tirar, ao não sermos coitadinhos, ao não pedirmos desculpa por sermos mães solteiras, pais solteiros, com orientação sexual a, b ou c, estamos a tirar-lhes a possibilidade de se sentirem superiores, moralmente superiores. É o último bastião.

Daí a veemência. Coitaditos."

19.2.10

If we give gay people equal rights, then everyone will want them.

Eu pensava que depois de ser aprovado em votação na Assembleia da República e na especialidade, o assunto do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo deixava de me causar úlceras. Afinal não.
Pelos vistos uns senhores e umas senhoras com problemas de homofobia disfarçada vão fazer uma manifestação contra a alteração da lei, defendendo que "o casamento é entre um Homem e uma Mulher" (com evidente direito do homem para bater na mulher sempre que o Benfica perder; esta época a situação tem estado favorável para as mulheres).
Mas há mais! Pelos vistos uns militares que pouco fazem por este país que, diga-se de passagem, não precisa de exército para coisíssima nenhuma, acham que devem meter o bedelho onde não são chamados e vá de fazer uma espécie de mini-petição, uma carta aberta, na qual afirmam que o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo é "uma aberração" e que a sua intervenção nesta questão é "comparável ao 25 de Abril". Ora vamos analisar: o 25 de Abril foi uma revolução militar que acabou com 48 anos de ditadura, durante os quais Portugal foi um país completamente fechado ao exterior, sem liberdade de expressão, sem liberdade de impressa, sem direito a defesa em caso de julgamento, em que os cidadãos eram perseguidos pela polícia política do Estado, e em último caso condenados a penas de prisão longas em prisões sem as mínimas condições, como o Tarrafal; a alteração da lei que legaliza o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo pretende acabar com uma discriminação que existe desde sempre, que põe em causa a felicidade de milhares de pessoas, ou seja, pretende dar direitos iguais a todos os cidadãos. Estão a ver aqui os pontos em comum? Eu também não.

Ps.: a título de curiosidade, à mesma hora dessa infeliz manifestação, vai ser feita uma contra-manifestação, com o nome genial de "Bichas pela Liberdade".

14.2.10

Invictus

"Out of the night that covers me,
Black as the pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.


In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds and shall find me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll,
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.
"

William Ernest Henley, Book of Verses

10.2.10

Um dia de cada vez

Cheguei a casa e vi a notícia de que o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo foi aprovado na especialidade sem alterações. E o dia ficou ainda melhor do que já estava a ser. Eu sei que o artigo sobre a adopção traz problemas, eu gostava que não houvesse impedimentos, que os direitos fossem totais. Mas isto é mais um passo para a frente, em vez de um recuo.

Na mesma altura vi este vídeo, de uma nova campanha da ILGA. E gostei.

8.2.10

"Então não é que o tipo que mora no 3º esquerdo disse ao telefone que a Manuela Ferreira Leite era uma bruxa?*

*(continuação do título) Vamos já meter-lhe um processo em cima, e publicar as escutas num jornal, e dar-lhe um excerto de porrada, e mais alguma coisa que eu me lembrar a seguir."

Quando se falava em mudar a lei para legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, insurgiam-se os conservadores (e a população portuguesa que pouco pensa e vai atrás daquilo que ouve), dizendo que tinhamos assuntos mais importantes com os quais nos preocupar, que a economia estava mal, o desemprego para aqui, o défice para ali, tudo coisas importantes, sem dúvida. A lei foi mudada, não houve nenhuma catástrofe por causa disso.
Agora, os mesmos conservadores esquecem que há défice e desemprego e coisas assim, para vir clamar pela "morte" (forma resumida de demissão e humilhação pública) do primeiro-ministro, porque foi apanhado numa escuta que não lhe era dirigida, e que foi considerada ilegal pelo presidente do Supremo Tribunal de Justiça. Desdobram-se em inquéritos, comissões, petições, tudo e mais alguma coisa, para ouvir conversas de outras pessoas, que foram consideradas ilegais por aquela que é, só, a figura mais alta do sistema judicial português, e que, quer queiram quer não, tem competências para tomar aquela decisão. Porquê? Porque não lhes agrada que o primeiro-ministro não seja linchado em via pública, porque são de outro partido, porque não têm a mínima moral.
Quando se tratava de dar direitos a quem não os tinha, preferiam fazer de conta que o assunto não era importante. Como agora o objectivo é meterem o bedelho onde não são chamados, já andam todos muito preocupados, a gastar tempo, dinheiro e tudo o mais que seja preciso.
Dois pesos e duas medidas. Depois venham falar de coerência.

4.2.10

"Mas por acaso alguém sabe quem foi o último rei de Portugal? Pois, bem me parecia..."

Não sabia da realização de protestos de alunos do ensino básico e secundário em várias cidades. Vi a reportagem há poucos minutos na televisão. E, claro, tenho alguma coisa a dizer sobre o assunto.
Eu fui aluna do sistema de ensino obrigatório português durante 12 anos, como exigido. E, por ter percorrido todo esse caminho, posso dizer com certeza que pouco aprendi. A maior parte dos conhecimentos que posso afirmar hoje ter ganhei fora das aulas, através de livros, jornais, revistas, programas de televisão, internet, muitas formas. A verdade é que o ensino obrigatório em Portugal é francamente miserável. Os programas são mal pensados, os objectivos raramente são atingidos, e mesmo quando o são, não se traduzem em verdadeiros conhecimentos, a grande maioria dos professores não tem capacidades ou, mais importante ainda, vocação, para dar aulas.
Contudo, nada disto justifica o baixo aproveitamento escolar que muitos alunos têm. A verdade é que muitos não têm melhores notas porque não querem.
Mas, tendo em conta a situação específica que motivou estas manifestações, fui analisar as exigências dos alunos. Para começar, falta de condições físicas nas escolas; com isto concordo plenamente, tive a infelicidade de frequentar escolas sem as mínimas condições. Revogação do estatuto do aluno; o estatuto do aluno só foi implementado depois de eu ter terminado o ensino secundário, mas grande parte das medidas que impôs parecem-me completamente estapafúrdias, como já era de esperar de medidas tomadas nesse período negra da história da educação portuguesa que foi o ministério de Maria de Lurdes Rodrigues. Ainda tive de apanhar com aulas de substituição, que servem para coisa nenhuma, mas felizmente já não apanhei com a história das faltas justificadas que chumbam na mesma. Se é para chumbar de qualquer forma, para quê ir às aulas? Implementação real das aulas de educação sexual; concordo completamente, deviam ter sido implementadas há muitos anos, nem sequer devia ser necessário fazer leis para implementar aulas que esclarecem dúvidas cruciais no desenvolvimento dos jovens (mas, claro, vivemos num país de mentes fechadas, não se pode falar de sexo, é pecado). Mas depois vem a exigência que me motivou primeiro este texto: fim dos exames nacionais. E isto eu não entendo. Confesso que não morro de amores pelos exames nacionais, para mais porque aqueles que fiz foram essencialmente ridículos, focando matérias que não tinham o mínimo interesse para o futuro escolar dos alunos. Mas acho que, apesar disso, são necessários. Concordo que a sua percentagem na nota final do aluno diminua, sim, foi por causa desses exames que a minha média de entrada no ensino superior caiu redondamente. Mas ainda assim, algum tipo de exame é necessário.
Agora um apontamento, não em relação às ideias, mas às pessoas. Assisti à reportagem feita na televisão, para a qual foram entrevistados vários alunos. Alguns falaram muito bem, mostraram acreditar naquilo que diziam, ter ideias reais e propostas para melhorar o sistema de ensino. Mas depois foram entrevistados alunos e alunas que me fizeram sentir vergonha. Repito, vergonha. Miúd@s histéric@s, que não faziam a mínima ideia porque ali estavam, que riam como se fossem criancinhas, e que participaram em protestos dos quais não percebiam nada apenas para ter uma desculpa para faltar às aulas. E infelizmente, isto é a grande maioria dos estudantes portugueses. Pessoas que não pensam pelas próprias cabeças. O futuro de Portugal, para me armar um bocadinho em nacionalista, depende de pessoas como estas, que riem quando deveriam falar de assuntos sérios, que têm cérebros vazios, conhecimentos inexistentes, e nenhuma responsabilidade. Uma pena.

3.2.10

"Pois é o seguinte, amigo, você pode bater na sua mulher como bem lhe apetecer, mas não a pode obrigar a usar a burqa, ok?"

Eu ando a mentalizar-me que devia de deixar de ler jornais. Juro que ando. Mas a curiosidade é mais forte. Depois as úlceras que se queixem.
Nos últimos tempos tenho visto uma série de textos, em blogues, jornais e quejandos, sobre a proibição do uso da burqa e do niqab em espaços públicos, na França. Faço já a minha declaração de intenções: eu sou contra o uso dos véus completos, mesmo que seja no contexto cultural do Islão, porque acho que é simplesmente estúpido cobrir uma mulher dos pés à cabeça para impedir os estranhos de olharem para ela (isso a mim dá-me é ainda mais curiosidade, mas pronto). Mas, mais ainda do que isso, eu defendo a liberdade de escolha, que é uma coisa que anda pelas ruas da amargura por estes dias. Aqui está um texto onde é defendida uma opinião parecida com a minha, mas muito mais bem fundamentada, claro.
Pelo que tenho visto nos últimos anos, tem havido um aumentado da xenofobia europeia em relação ao Islão, visível, por exemplo, no referendo suíço contra os minaretes (de que falei na altura). Este é só mais um passo para esse preconceito.
Mas agora dou de caras com esta notícia. E fiquei lixada. Eu já estava de mau humor, mas fiquei ainda pior. O meu problema não é impedirem que um tipo que tenciona tapar a mulher dos pés à cabeça com um pano de receber a nacionalidade francesa. Acho muito bem que o tenham feito. O meu problema é que não impedem tipos que batem nas mulheres, tipos que matam pessoas, tipos que roubam, violam, cometem todos os crimes possíveis, de receber a nacionalidade. Mas como andam com um ataque de preconceito contra o Islão, e contra os árabes em geral, por ignorância, proibiram este (é favor ver a diferença entre árabes e muçulmanos, para não serem tão ignorantes como esses preconceituosos). Onde é que fica a coerência? Para quê gabarem-se de que vivem numa democracia, num país civilizado, se depois não têm princípios?

Parece que o tempo na Madeira não anda bom. Deve ser Deus a castigar o Alberto João Jardim.

As aulas recomeçam segunda-feira. A turma está de rastos. O C. continua em casa, a recuperar da quimioterapia. A L. entrou em morte cerebral há três dias. Assim, sem mais. Devia haver avisos para estas coisas.
Um tipo decidiu tentar abalroar-me com o carro porque não gostou da forma como eu entrei numa rotunda. Adoro os condutores portugueses.
Já ninguém se lembra da gripe A, que parece que foi um flop nas bilheteiras, e já quase ninguém se lembra do terremoto no Haiti. Nem me lembro do que aconteceu antes. Agora falase do Orçamento de Estado, e do "caso Mário Crespo". Jornalismo de "o homem que mordeu o cão" é sempre bom.
O casamento entre pessoas do mesmo sexo continua em águas de bacalhau. Pode ser que lá para o natal se resolva.
O Vítor Constâncio, que ganha quase 20 mil euros todos os meses, diz que o IVA tem de aumentar. Ele que enfie o IVA e o salário no olho do cu, porque como já é de esperar não se lembra que quem vive com o salário mínimo nacional não concorda com essa ideia. Pensar nos pobres dá muito trabalho.
Afinal o défice não era de 5%, era de 9%. Economia para mim é chinês, mas soa-me a esquema para arranjar votos.
É por estas e por outras que eu não gosto de férias.