21.2.10

Parece que há umas famílias melhores que as outras, uns seres humanos melhores que os outros...

Eu pensei em pôr só o link, mas depois achei que este texto valia cada palavra que a autora escreveu. Por isso, na íntegra, aqui fica.


"O problema é que já não somos coitadinhos

Esta história das veemência de opinião dos que dizem defender a família tem-me feito alguma confusão. Eu percebo que haja formas diferentes de pensar e de sentir as coisas, mas não compreendia a veemência e até o desespero com que muitas pessoas defendiam a exclusividade de direitos a uma certa casta, a deles, claro.

A resposta não me bateu de repente, foi uma coisa que foi crescendo, e que se passou comigo há uns anos. Eu explico.

Grávida de muitos meses mudei-me para a província. Fica a 40Km de Lisboa, mas é Portugal profundo na mesma. Ora, aquela malta, estava fartinha de conhecer mães solteiras (que era o meu caso). Não lhes fazia confusão nenhuma que eu estivesse grávida, sendo solteira, o que lhes fazia muita confusão, era eu não ser coitadinha. Mãe solteira sim, mãe solteira por opção já não percebiam. A minha opção tirava-lhes a oportunidade de poderem ter pena de mim, na sua superioridade moral. Não era a gravidez que lhes colidia com o sistema, era a opção.

Nesta história das "famílias a sério", eu acho que é isso que se passa. Foi retirada a esta gente a possibilidade de se sentirem superiormente morais, porque os outros, que antigamente eram coitadinhos, agora já não são e, heresia, até querem os mesmos direitos e deveres. Então, se querem os mesmos direitos e deveres, nós já não podemos ser superiores. Vai-se-nos o último reduto de superioridade, o moral (que o financeiro e o social já foram há muito tempo).

E é isto que lhes estamos a tirar, ao não sermos coitadinhos, ao não pedirmos desculpa por sermos mães solteiras, pais solteiros, com orientação sexual a, b ou c, estamos a tirar-lhes a possibilidade de se sentirem superiores, moralmente superiores. É o último bastião.

Daí a veemência. Coitaditos."

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