3.2.10

"Pois é o seguinte, amigo, você pode bater na sua mulher como bem lhe apetecer, mas não a pode obrigar a usar a burqa, ok?"

Eu ando a mentalizar-me que devia de deixar de ler jornais. Juro que ando. Mas a curiosidade é mais forte. Depois as úlceras que se queixem.
Nos últimos tempos tenho visto uma série de textos, em blogues, jornais e quejandos, sobre a proibição do uso da burqa e do niqab em espaços públicos, na França. Faço já a minha declaração de intenções: eu sou contra o uso dos véus completos, mesmo que seja no contexto cultural do Islão, porque acho que é simplesmente estúpido cobrir uma mulher dos pés à cabeça para impedir os estranhos de olharem para ela (isso a mim dá-me é ainda mais curiosidade, mas pronto). Mas, mais ainda do que isso, eu defendo a liberdade de escolha, que é uma coisa que anda pelas ruas da amargura por estes dias. Aqui está um texto onde é defendida uma opinião parecida com a minha, mas muito mais bem fundamentada, claro.
Pelo que tenho visto nos últimos anos, tem havido um aumentado da xenofobia europeia em relação ao Islão, visível, por exemplo, no referendo suíço contra os minaretes (de que falei na altura). Este é só mais um passo para esse preconceito.
Mas agora dou de caras com esta notícia. E fiquei lixada. Eu já estava de mau humor, mas fiquei ainda pior. O meu problema não é impedirem que um tipo que tenciona tapar a mulher dos pés à cabeça com um pano de receber a nacionalidade francesa. Acho muito bem que o tenham feito. O meu problema é que não impedem tipos que batem nas mulheres, tipos que matam pessoas, tipos que roubam, violam, cometem todos os crimes possíveis, de receber a nacionalidade. Mas como andam com um ataque de preconceito contra o Islão, e contra os árabes em geral, por ignorância, proibiram este (é favor ver a diferença entre árabes e muçulmanos, para não serem tão ignorantes como esses preconceituosos). Onde é que fica a coerência? Para quê gabarem-se de que vivem numa democracia, num país civilizado, se depois não têm princípios?

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