Não sabia da realização de protestos de alunos do ensino básico e secundário em várias cidades. Vi a reportagem há poucos minutos na televisão. E, claro, tenho alguma coisa a dizer sobre o assunto.
Eu fui aluna do sistema de ensino obrigatório português durante 12 anos, como exigido. E, por ter percorrido todo esse caminho, posso dizer com certeza que pouco aprendi. A maior parte dos conhecimentos que posso afirmar hoje ter ganhei fora das aulas, através de livros, jornais, revistas, programas de televisão, internet, muitas formas. A verdade é que o ensino obrigatório em Portugal é francamente miserável. Os programas são mal pensados, os objectivos raramente são atingidos, e mesmo quando o são, não se traduzem em verdadeiros conhecimentos, a grande maioria dos professores não tem capacidades ou, mais importante ainda, vocação, para dar aulas.
Contudo, nada disto justifica o baixo aproveitamento escolar que muitos alunos têm. A verdade é que muitos não têm melhores notas porque não querem.
Mas, tendo em conta a situação específica que motivou estas manifestações, fui analisar as exigências dos alunos. Para começar, falta de condições físicas nas escolas; com isto concordo plenamente, tive a infelicidade de frequentar escolas sem as mínimas condições. Revogação do estatuto do aluno; o estatuto do aluno só foi implementado depois de eu ter terminado o ensino secundário, mas grande parte das medidas que impôs parecem-me completamente estapafúrdias, como já era de esperar de medidas tomadas nesse período negra da história da educação portuguesa que foi o ministério de Maria de Lurdes Rodrigues. Ainda tive de apanhar com aulas de substituição, que servem para coisa nenhuma, mas felizmente já não apanhei com a história das faltas justificadas que chumbam na mesma. Se é para chumbar de qualquer forma, para quê ir às aulas? Implementação real das aulas de educação sexual; concordo completamente, deviam ter sido implementadas há muitos anos, nem sequer devia ser necessário fazer leis para implementar aulas que esclarecem dúvidas cruciais no desenvolvimento dos jovens (mas, claro, vivemos num país de mentes fechadas, não se pode falar de sexo, é pecado). Mas depois vem a exigência que me motivou primeiro este texto: fim dos exames nacionais. E isto eu não entendo. Confesso que não morro de amores pelos exames nacionais, para mais porque aqueles que fiz foram essencialmente ridículos, focando matérias que não tinham o mínimo interesse para o futuro escolar dos alunos. Mas acho que, apesar disso, são necessários. Concordo que a sua percentagem na nota final do aluno diminua, sim, foi por causa desses exames que a minha média de entrada no ensino superior caiu redondamente. Mas ainda assim, algum tipo de exame é necessário.
Agora um apontamento, não em relação às ideias, mas às pessoas. Assisti à reportagem feita na televisão, para a qual foram entrevistados vários alunos. Alguns falaram muito bem, mostraram acreditar naquilo que diziam, ter ideias reais e propostas para melhorar o sistema de ensino. Mas depois foram entrevistados alunos e alunas que me fizeram sentir vergonha. Repito, vergonha. Miúd@s histéric@s, que não faziam a mínima ideia porque ali estavam, que riam como se fossem criancinhas, e que participaram em protestos dos quais não percebiam nada apenas para ter uma desculpa para faltar às aulas. E infelizmente, isto é a grande maioria dos estudantes portugueses. Pessoas que não pensam pelas próprias cabeças. O futuro de Portugal, para me armar um bocadinho em nacionalista, depende de pessoas como estas, que riem quando deveriam falar de assuntos sérios, que têm cérebros vazios, conhecimentos inexistentes, e nenhuma responsabilidade. Uma pena.
5 comentários:
nightcrawler, os alunos não são mais do que o espelho dos professores, não achas? No passado ano lectivo foram greves e mais greves; afinal para quê? - Pis, para discutirem questão meramente sindicais. Conheces alguma proposta para reformar o ensino? Nem por isso, digo eu.
Por acaso discordo de parte do que dizes. Existem péssimos professores, é verdade. Mas eu acho que os alunos são aquilo que os educam para ser, não só na escola mas principalmente em casa. Muitos pais por esse país fora não se preocupam minimamente com a educação dos filhos. Ou será que é correcto que pais decidam ir às escolas agredir os professores dos filhos? Eu concordo com as manifestações, greves e protestos feitos pelos professores, porque conheço muitos professores que viram as suas vidas massacradas pelas medidas impostas pela anterior ministra. Não foram "questões meramente sindicais".
Não, é verdade que não existem propostas decentes para a reforma do ensino, mas que eu saiba essas propostas têm de vir da tutela, do ministério da educação, e não dos professores. Se o ministério se acha no direito de alterar a vida dos seus funcionários para pior (e consequentemente dos alunos), então também tem de se esforçar para a alterar para melhor.
O que se passa é que, mais uma vez, o facilitismo está tão patente naquelas cabecinhas que é aceitável e até celebrada a quantidade cada vez menor de trabalho.
As tais meninas e meninos que exigem o final dos exames nacionais deviam era ir para casa, comer muita sopinha e começar a estudar, que não é com facilitismo que se chega a algum lado (e se é, então deviam ter vergonha por aceitar o caminho mais fácil)
Mas o facilitismo vem de onde? O facilitismo começa em casa, nos pais que não lhes mostram que deviam lutar e esforçar-se pelo que desejam, e começa nas entidades superiores, com exemplos tão evidentes como os novos exames nacionais feitos quase totalmente de questões de escolha múltipla. Se as crianças, os jovens, são o que são, é também porque não recebem a educação e os exemplos certos, tanto dentro como fora de casa. Nem sempre é por gostarem de ser ignorantes.
Enviar um comentário