30.9.09

Isto assim não dá

O meu semestre vai ter 3 meses, nos quais vou ter de dar a mesma matéria que há quatro anos atrás os alunos davam em 1 ano. Tenho um professor que sabe menos que os alunos e uma professora que se não ler os powerpoints não consegue dar as aulas. Chove dentro da escola mas a direcção preferiu pintar as paredes do que remendar o tecto. Andam todos maníacos por causa da gripe A, ao ponto de expulsarem professores dos seus gabinetes para os transformarem em salas de quarentena para pessoas contagiadas, mas ainda não se lembraram que se calhar termos de pegar em todas as maçanetas de todas as portas é uma forma de contágio (deixar as portas abertas dá muito trabalho, coitados, constipam-se com as correntes de ar nestes 30º). Como eu adoro o ensino superior público em Portugal...

25.9.09

O rei do bananal volta a atacar

Hoje acordei com a sensação de que o dia não me ia correr bem. E pelos vistos tinha razão.
Não é que, quando inocentemente vou dar uma volta pelos blogues do costume e pelas notícias mais recentes, dou de caras com isto? Grande parte da notícia é aquele senhor que é democraticamente eleito na Região Autónoma da Madeira de quatro em quatro anos, e já por lá anda há perto de trinta, a dizer as alarvidades do costume e a meter-se em assuntos que não lhe dizem respeito. Mas depois o dito senhor, que trato por senhor porque felizmente sou muito mais bem educada que ele e não ando por aí a insultar tudo o que me aparece à frente, sai-se com o seguinte comentário:
«Sublinhou que "votar contra Sócrates é ainda votar contra o casamento dos homossexuais". Apontando que "cada um é o que quer, mas não se pode chamar casamento àquilo que não é”, acrescentando que é uma “pouca-vergonha”. »
Por favor, expliquem-me, que eu sou muito burra e não entendo, o que é que ele tem a ver com este assunto? Ele por acaso pretende casar com alguém do mesmo sexo? Que eu, e o resto do país, saiba, não. Então não venha "arrotar postas de pescada", para usar uma expressão muito portuguesa, sobre coisas que não lhe dizem respeito. Porque se formos ver bem, pouca vergonha é o que ele diz cada vez que abre a boca.
Esta gentinha que tenha dó e não me venha estragar o dia com comentários tristes.

Eleições legislativas 2009

Hoje é o último dia de campanha eleitoral, da qual, diga-se de passagem, já estou mais que farta. Este ano o que se viu foi tudo menos campanha eleitoral: foi "votem em mim porque o outro é mau", foi ataques pessoais, foi insultos disfarçados, já para não falar de assuntos que não tinham nada a ver com as eleições mas que andaram na boca de todos os candidatos. Amanhã é o dia de reflexão, no qual, felizmente, é proibido fazer publicidade partidária, e domingo são as ditas eleições.
Agoram perguntam, "mas o que é que isso tem de interessante?". Pois bem, não tem nada. Escrevo isto só mesmo para dizer que tenho reparado na falta de vontade de uma parte da população, que eu deduzo pelos exemplos das pessoas com quem me relaciono. A classe política está profundamente desvalorizada, o que mais ouço na rua são comentários sobre o facto de todos os políticos procurarem apenas enriquecer e ganhar pessoalmente com as funções, em vez de se esforçarem para o bem comum. Isso é uma pena. Que as pessoas pensem dessa forma, e mais ainda, que essa seja a realidade.
Para estas eleições ponderei seriamente aderir ao conceito do Movimento Voto Nulo, por achar que uma boa parte das medidas propostas dos candidatos não passam disso mesmo, medidas propostas, e que nunca serão concretizadas (por aqui também se vê o meu próprio descontentamento com os políticos). Mas depois pensei que as eleições legislativas, se as virmos bem, não são para eleger um governo e um primeiro-ministro (ou uma primeira-ministra). São para eleger deputados, que representem a população e as suas ideologias e necessidades. Como a minha ideologia política é pouco moderada, pouco do centrão, eu nunca estaria, de qualquer forma, a votar num candidato para o governo. Mas estaria a votar num deputado, alguém para propôr medidas, quer elas sejam aprovadas pela maioria, absoluta ou relativa (ou mesmo pela coligação partidária), que saia destas eleições.
Mas o que eu não entendo, e acho que é provavelmente esse o motivo que me leva a escrever, são aqueles que se abstêm. Isto pode ser a minha visão de pessoa jovem que ainda pouca experiência tem nestas andanças, e que anda desejosa por pôr em prática o seu direito de voto (já para não falar em pessoa com muitos sonhos e ideias vagamente utópicas no que trata de política). Mas mesmo vendo por esse ângulo, não entendo. "Ah, não vou votar porque domingo vai estar bom e tempo e vale mais ir para a praia". Só podem estar a gozar comigo. Caso essas pessoas não se lembrem (e não devem lembrar, ou pior, não devem saber) votar não é só um direito. Votar é um dever civil, já para não falar de uma obrigação moral. Depois essas pessoas passam quatro anos a queixar-se das medidas tomadas pelo governo e pelos deputados da Assembleia da República, mas não têm direito nenhum de se queixar. Não votaram? Agora aguentem-se. Se tivessem ido votar talvez as coisas tivessem sido diferentes.
Por isso, se fazem favor, senhores e senhoras abstêncionistas, domingo levantem essa peida do sofá de casa, ou da cadeira da explanada, ou do areal da praia, ou seja de onde fôr, e cumpram a vossa obrigação como cidadãos.

24.9.09




Informaram-me de que recebi isto. Para começar tenho de dizer que os abraços não têm muito a ver comigo, não sou do tipo de abraçar todas as pessoas que lhe aparecem à frente. E depois também tenho de dizer que a pessoa que me mandou o selo, a B', do blog o meu mundo de verdade (já agora obrigado), não tem uma opinião válida, porque me acha, passo a citar, "bué da fofinha". Mas eu até sou simpática e não vou fazer a desfeita de recusar.
Agora vem a parte chata (sim, porque eu, perdoem-me lá, nem me vou dar ao trabalho de continuar a corrente e passar isto a não sei quantas pessoas, eu sei que dá azar, mas paciência, já tou habituada a um certo azar, eu até gosto de gatos pretos), responder às perguntas.

1. Quem mais gostas de abraçar, no presente?
A minha namorada (eu bem disse que a opinião dela não valia, se me abraça fica logo toda derretida e nem pensa como deve ser :P).

2. Quem nunca abraçarias?
Muita gente. Tenho uma série de ódios de estimação, já para não falar em figuras públicas que me metem uma impressão desgraçada cada vez que abrem a boca.

3. A quem davas tudo para poder abraçar?
A poucas pessoas, pessoas essas que muito admiro, mas que por motivos profissionais ou de respeito não tenho a possibilidade de abraçar (e em um ou dois casos porque nem sequer as conheço pessoalmente).

4. A quem davas o teu melhor abraço?
A quem me dissesse que eu sou mesmo muito gira :P Estou a brincar. As pessoas a quem os daria sabem quem são.

E pronto, é isto.

17.9.09

Eleições 2009

Vinda desse grande especialista da política, futebol e outras coisas igualmente irritantes, Bráulio Cimento Alverca, a melhor análise das eleições que já vi:
"Antes aquele verdinho tão bonito dos cartazes do MEP do que as ideias, e tudo o resto, do MEP.
Antes uma manhã inteira a comer ovos cozidos do que um comunicado da Comissão Nacional de Eleições.
Antes a dra. Manuela Ferreira Leite retirada num chalé da província a tricotar botinhas de lã para os netos, a ler as memórias do Conde de Vimioso e a poesia escolhida de Júlio Diniz, a fazer um piqueno período de ginástica matinal todos os dias, a ouvir os grandes êxitos da canção francesa interpretados pelo Vítor Espadinha e pela Marina Mota e a tomar, ao fim da tarde, um calicezinho de licor de framboesa caseiro do que a dra. Manuela Ferreira Leite sem ser retirada num chalé da província a tricotar botinhas de lã para os netos, a ler as memórias do Conde de Vimioso e a poesia escolhida de Júlio Diniz, a fazer um piqueno período de ginástica matinal todos os dias, a ouvir os grandes êxitos da canção francesa interpretados pelo Vítor Espadinha e pela Marina Mota e a tomar, ao fim da tarde, um calicezinho de licor de framboesa caseiro.
Antes umas pataniscas de bacalhau com um arrozinho de grelos acompanhados por uma imperial fresquinha do que perder tempo a tentar perceber se o MMS existe mesmo.
Antes engolir uma moeda de 2 cêntimos do que um minuto do Tempo de Antena da Frente Ecologia e Humanismo, que mais parece um remake barato, com um tudo-nada de LSD, dos filmes checoslovacos apresentados pelo saudoso Vasco Granja nos anos 70 do século passado.
Antes penhorarem-me os patins e a bicicleta do que ser confundido na rua com um dos gémeos Câmara Pereira ou qualquer dos outros dirigentes do PPM.
Antes um incêndio na cozinha & uma invasão de batráquios & um concerto de 4 horas da Banda Filarmónica União e Recreio de Unhais da Serra, dirigido pelo maestro César Batalha & a praga de gafanhotos de que fala a Bíblia & um tijolo na cabeça de repente quando se vai a passar na via pública & o cheiro do queijo da ilha & 56 raios a cair de seguida & 73 coriscos intercalados por anedotas contadas pelo Guilherme Leite & o hálito do meu tio Porfírio & 3 anúncios da Moviflor & outro tijolo a cair na cabeça & uma rave de carrapatos na zona púbica & uma fila de trânsito antes de chegar ao Carregado & o Mendes Bota a interpretar o reportório dos UHF em ritmo samba & chispe de porco do que um único pêlo da barba daquela besta que dá a cara pelo PNR, haja paciência, coitadinha da mãe que tem um filho assim.
Antes uma sopa de legumes ao pequeno-almoço do que o discurso do método do Sócrates.
Antes uma boa gargalhada com aquilo tudo da stôra Carmelinda do que os ataques de soluços que me dão de cada vez que o camarada Jerónimo se põe a explicar coisas com aquela toada épica à José Carlos Ary dos Santos, mas a 12 rotações por minuto.
Antes ficar um dia inteiro de pernas para o ar pendurado numa grua do que deixar-me enredar pelos raciocínios do Paulo Portas.
Antes o Love for Sale do Cole Porter do que o hino de campanha do PCTP/MRPP.
Antes uma excursão a Torremolinos num autocarro da Barraqueiro, a cantar ciclicamente o Y Viva España e a chupar caramelos com sabor a café do que um certo ar professoral do Louçã.
Antes omitir o Partido Pró Vida e o Partido Trabalhista Português do que fingir que eles existem."
Roubado aqui.

15.9.09

Nojo de gente

Uma série de tipos extremistas religiosos com graves problemas de foro psicológico procuram em locais de conversação na internet homens gays. Marcam encontros com eles, agindo como se também fossem homossexuais, e depois matam-nos. Isto passa-se no Iraque, nos nossos dias, neste preciso instante, quem sabe. Esta gentalha sem ideias decentes julga que tem razão no que faz e, pior, acha que o seu deus, que na verdade é o mesmo deus de toda a gente, os vai recompensar por matarem barbaramente quem cometeu o crime, o terrível pecado de nascer homossexual. Como?!! Expliquem-me que eu não entendo esta cambada de anormais!
Notícia original aqui, comentários aqui, aqui e aqui.

14.9.09

Burocracia e outras porcarias

Eu sou muito prática e realista. Mas também sou um bocadinho sonhadora. E no meu mundinho ideal, o sistema político e o funcionamento do Estado não eram bem como são na realidade. Isto vem a propósito de ter ido tratar do cartão do cidadão. Reparei que a validade acabava em outubro e pensei "olha, vou já tratar disso". Dirigi-me à Conservatória do Registo Civil mais próxima, enfrentei uma fila de pessoas que, por razões que desconheço, acampam em frente ao edifício a partir das seis da manhã, quando este só abre às nove (isto é mesmo verdade, a informação chegou-me por fontes credíveis) tirei a fotografia, na qual fiquei pessimamente mal, fiz a assinatura, que na transferência para o computador ficou distorcida e se eu tiver de comprovar que é minha não posso, e pus as impressões digitais. E foi a partir daí que os problemas surgiram. Eu sei que a informatização dos serviços públicos pode ser útil, facilita muitas tarefas, há menos papeladas e as crianças ficam felizes com os magalhães. Mas tanto tecnologia dá buraco, como dizem na minha terra. Num espaço de uma hora e meia, as minhas impressões digitais, segunda a sapientíssima máquina, mudaram. E eu já não podia ter acesso ao meu processo para finalizar o pedido do cartão. Foi preciso desgastar a pele dos dedos para o computador achar que o meu sofrimento bastava e reconhecer a impressão digital. Para além de mais uma série de problemas técnicos, que implicaram repetir novamente a tortura das impressões, o assunto estava resolvido.
Eis que chega a parte de pagar. E agora vejam se o meu raciocínio está correcto. Vivemos num país minimamente civilizado, com muitas falhas, é certo, mas até podia ser pior. Temos uma administração pública péssima, é certo, mas apesar disso ela existe. O Estado gasta milhões de euros em coisas que não interessam nem ao Menino Jesus, logo podia gastar também em coisas úteis. E uma vez que o cartão do cidadão não foi uma medida tomada por decisão da população, mas sim por imposição do governo, e não me venham dizer que se o governo decide eu tenho de aguentar, o tanas, eu não votei neles, eles que não me venham lixar a vida, bem que podia ser gratuito, não era mais que a obrigação do Estado. Mas não é gratuito. 12€ não é um balúrdio, não foi a quantia que me irritou. Foi todo o sistema ser uma completa treta, para não dizer uma palavra pior. Ora eu estou a pagar por um documento que prova que eu existo. Sim, porque caso eu perca o documento, literalmente deixo de existir. Serei eu que estou muito revolucionária, ou isto não faz sentido?
Para mais informações sobre "a coisa", ver aqui.

12.9.09

Recomeçar

Falta uma semana e pouco. E eu estou morta para que as aulas comecem. Eu sei que há quem diga que isso é um problema psicológico grave, que eu devia de ir ao médico para me tratar, etc. Mas não me interessa. Eu gosto daquilo. Gosto de me sentar ao fundo da sala a ouvir os professores. Gosto de tirar apontamentos e aprender. Gosto de pesquisar (pesquisar a sério, não é só fazer copy paste) para os trabalhos. Gosto do ambiente, das conversas. Gosto de uma ou duas pessoas da minha turma. Gosto de chegar ao fim do dia, cansada, muito cansada, e contar o que me aconteceu à pessoa com quem partilho todos os meus momentos. Simplesmente gosto.
Este ano vai ser diferente. É o último ano da licenciatura. Se não houver percalços, daqui a um ano estarei a entrar para o mestrado. E aí vai ser tudo muito mais difícil. Este é o último ano em que me vou queixar de ter uma quantidade absurda de trabalho, quando na verdade isso é aparente. É o último ano em que vou ter tempo livre para muita coisa, apesar de me parecer que não tenho tempo para nada. Este vai ser o último ano da minha juventude. Depois vou ter de aprender a ser adulta.

11.9.09

Petição contra o aumento absurdo das portagens na A21

Pelos vistos não sou a única a pensar que isto é um roubo. E ainda bem que quem pensa como eu teve a ideia de fazer uma petição, dirigida à Assembleia da República e à Assembleia Municipal de Mafra. Está aqui. É favor assinar.

8.9.09

troca-me, toca-me

que eu aprenda tudo desde a morte,
mas não me chamem por um nome nem pelo uso das coisas,
colher, roupa, caneta,
roupa intensa com a respiração dentro dela,
e a tua mão sangra na minha,
brilha inteira se um pouco da minha sangra e brilha,
no toque entre os olhos,
na boca,
na rescrita de cada coisa já escrita nas entrelinhas das coisas,
fiat cantus! e faça-se o canto esdrúxulo que regula a terra,
o canto comum-de-dois,
o inexaurível,
o quanto se trabalha para que a noite apareça,
e à noite se vê a luz que desaparece da mesa,
chama-me pelo teu nome, troca-me,
toca-me
na boca sem idioma,
já te não chamaste nunca,
já estás pronta,
já és toda

Herberto Helder, Ofício Cantante - Poesia Completa

7.9.09

Buzinão na A21

Vivo relativamente perto da Ericeira. Por motivos pessoais, nos últimos tempos, tenho feito frequentemente o trajecto entre a Ericeira e Loures, por auto-estrada. Pagava 1,35€ no total. No dia 3 deste mês dei com a mesma viagem a custar 2,85€. Quando vi o valor, nas portagens de Loures, soltei um sonoro asneirão. Agora pensemos nas pessoas que têm de fazer o mesmo percurso diariamente para ir para o trabalho. Se a mim me custa e o faço por querer, nem quero pensar quem faz por obrigação. Claro que as vozinhas irritantes que enchem os bolsos com este dinheiro vão dizer "mas existem estradas nacionais alternativas". Pois existem. Onde se demora o dobro do tempo e se fica com o automóvel feito em cacos, sim, porque essas mesmas estradas não vêm manutenção vai para cinco anos. Já para não falar dos pontos de perigo que têm, como o caso de um local onde houve uma derrocada no Inverno passado, e que foi resolvido às três pancadas (lamentarei muito se isso acontecer, mas quase que aposto que vai desmoronar novamente este Inverno). Também podem alegar que o preço se encontrava tão baixo porque a auto-estrada estava a ser gerida pela Câmara Municipal de Mafra, e que as portagens aumentaram porque passou para a mão de uma empresa privada, o que já era de esperar. Mas nunca se esperaria um aumento assim. Enquanto na A8 se paga cerca de 0,05€ por quilómetro, na A21 está-se a pagar mais de 0,10€.
Não soube da existência deste buzinão, porque me encontrava noutro local à hora em que foi feito, e com pena minha não participei nele. Mas concordo, concordo plenamente com a atitude. Conheço algumas das pessoas que deram a cara por ele, e sei como vai ser difícil para eles fazer as deslocações a este preço. E espero que a empresa que começou agora a gerir a auto-estrada abra os olhos para a realidade.

Debate Francisco Louçã vs. Manuela Ferreira Leite

Não vi a totalidade do debate. Quando apanhei já estavam a debater a possibilidade de privatização da Segurança Social. Mas a parte que me chamou a atenção, por motivos óbvios, foi a do casamento entre pessoas do mesmo sexo. O Francisco Louçã pareceu seguro, mantendo o discurso que sempre apresentou e com boa fluência, coisa que também costuma mostrar. A Manuela Ferreira Leite atrapalhou-se, gaguejou, disse frase sem nexo, contradisse-se. O discurso do PSD para as questões da liberdade pessoal sempre foi, perdoem-me a expressão, uma bela porcaria. Esta senhora há uns tempos veio dizer que o casamento serve para a procriação. Pois coitadas das pessoas inférteis, ou daqueles que simplesmente não querem ter filhos, assim sendo não podem casar.
Ela diz que os casais homossexuais "não perspectivam a existência de filhos". Eu por acaso quero ter filhos. Com a minha namorada, eventualmente minha mulher. Depois diz que o Francisco Louçã pretende impôr o casamento. Essa deixou-me mesmo possessa. Não, minha senhora, e todos os que pensam como vossa excelência, ele não quer impôr o casamento, ele quer permitir que qualquer pessoa possa escolher casar. As uniões de facto não se tornam casamentos, só tornam se os intervenientes quiserem. Os casamentos homossexuais não se vão tornar uma praga nem um bicho papão, porque muitos homossexuais não querem casar. Mas querem ter o direito a escolher.

6.9.09

As pessoas são mesmo muito estúpidas

Gosto da forma de escrever da Inês Pedrosa. Tanto os livros como as crónicas. É directa, não tem papas na língua, e escreve com uma lucidez e um realismo admiráveis. Há uns tempos li isto, um texto público na revista Única, que sai com o Expresso aos sábados.
Este caso absurdo aconteceu, a uma rapariga qualquer, uma adolescente, que podia ser a nossa prima ou a vizinha do andar de cima. Foi violada e teve de esperar 11 horas para que fossem feitos os exames clínicos necessários. Imaginem isto. Imaginem passar 11 horas com a sensação na pele, de que outra pessoa vos agarrou, vos tocou, abusou de vocês. Pior: depois de ser forçada a praticar sexo oral, passar 11 horas sem poder lavar os dentes ou comer. Pois, parece horrível. Mas aconteceu. E aconteceu no Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Apesar do hospital ter dezenas ou centenas de médicos, não sei, não houve um único capaz de arranjar meia hora para fazer os exames à miúda e deixá-la ir para casa recuperar do trauma. Não, disseram-lhe "volte depois". Portugal às vezes mete nojo.
P. S.: já agora leiam também este, está muito interessante.

5.9.09

Inglourious Basterds

Fui ver o filme. E tenho de admitir que o Quentin Tarantino é mesmo um génio.
Ele agarra na Segunda Guerra Mundial, no Holocausto, numa tragédia da História da Humanidade em que morreram milhões de pessoas, e consegue tirar daí situações com piada.
Há momentos em que a brutalidade assusta, de tão realista que é. Mas o filme acaba e o que se sente é vontade de rir. Vontade de rir da crueldade daqueles homens. Vontade de rir da estupidez humana. Vontade de rir para fingir que aquilo tudo não aconteceu, que é só mesmo um filme. Mas aquilo aconteceu. Foi assim e muito pior. A única diferença, e uma diferença que teria tido consequências colossais se se concretizasse, foi que Adolf Hitler não morreu assim.


2.9.09

Isto é daquelas coisas que não interessam a ninguém

Hoje faço anos. 20 anos. Parabéns, ei, viva, blá blá blá.
A questão não é essa. A questão é que passa-se algo de errado comigo ou com a minha vida.
Eu sou feliz. Isto não é cliché, eu sou mesmo feliz. Amo perdidamente a minha namorada e sinto que ela me ama da mesma forma. Tenho amigos fantásticos que estão lá sempre que preciso. Estou a tirar o curso que quero, e tenho uma pequena possibilidade de no futuro vir a trabalhar na área que quero.
Mas mesmo assim sinto-me incompleta. Irrealizada, se é que isso existe. Tenho a sensação de ter tudo a meio, de ainda não ter concretizado nada na minha vida. Por muitoo que me digam que ainda sou jovem, que ainda tenho muito pela frente, 20 anos já é um certo tempo. E nesse tempo eu não concretizei nada. Tenho o curso a meio. Tenho uma relação feliz mas dependente de horários e questões parentais que a afectam. Tenho uma vida limitada pela dependência financeira em relação a outros. E isso faz-me sentir frustrada, e um pouco perdida.
E pronto era isto.