14.9.09

Burocracia e outras porcarias

Eu sou muito prática e realista. Mas também sou um bocadinho sonhadora. E no meu mundinho ideal, o sistema político e o funcionamento do Estado não eram bem como são na realidade. Isto vem a propósito de ter ido tratar do cartão do cidadão. Reparei que a validade acabava em outubro e pensei "olha, vou já tratar disso". Dirigi-me à Conservatória do Registo Civil mais próxima, enfrentei uma fila de pessoas que, por razões que desconheço, acampam em frente ao edifício a partir das seis da manhã, quando este só abre às nove (isto é mesmo verdade, a informação chegou-me por fontes credíveis) tirei a fotografia, na qual fiquei pessimamente mal, fiz a assinatura, que na transferência para o computador ficou distorcida e se eu tiver de comprovar que é minha não posso, e pus as impressões digitais. E foi a partir daí que os problemas surgiram. Eu sei que a informatização dos serviços públicos pode ser útil, facilita muitas tarefas, há menos papeladas e as crianças ficam felizes com os magalhães. Mas tanto tecnologia dá buraco, como dizem na minha terra. Num espaço de uma hora e meia, as minhas impressões digitais, segunda a sapientíssima máquina, mudaram. E eu já não podia ter acesso ao meu processo para finalizar o pedido do cartão. Foi preciso desgastar a pele dos dedos para o computador achar que o meu sofrimento bastava e reconhecer a impressão digital. Para além de mais uma série de problemas técnicos, que implicaram repetir novamente a tortura das impressões, o assunto estava resolvido.
Eis que chega a parte de pagar. E agora vejam se o meu raciocínio está correcto. Vivemos num país minimamente civilizado, com muitas falhas, é certo, mas até podia ser pior. Temos uma administração pública péssima, é certo, mas apesar disso ela existe. O Estado gasta milhões de euros em coisas que não interessam nem ao Menino Jesus, logo podia gastar também em coisas úteis. E uma vez que o cartão do cidadão não foi uma medida tomada por decisão da população, mas sim por imposição do governo, e não me venham dizer que se o governo decide eu tenho de aguentar, o tanas, eu não votei neles, eles que não me venham lixar a vida, bem que podia ser gratuito, não era mais que a obrigação do Estado. Mas não é gratuito. 12€ não é um balúrdio, não foi a quantia que me irritou. Foi todo o sistema ser uma completa treta, para não dizer uma palavra pior. Ora eu estou a pagar por um documento que prova que eu existo. Sim, porque caso eu perca o documento, literalmente deixo de existir. Serei eu que estou muito revolucionária, ou isto não faz sentido?
Para mais informações sobre "a coisa", ver aqui.

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