30.10.09

"Não, não podem casar, porque casar toda a gente vai sair caro, julgam que isto são as noivas de S. António ou quê?"

Hoje apeteceu-me comprar o Público. Não é meu hábito, só o leio em certos dias porque o distribuem gratuitamente na minha faculdade. Mas hoje ia a passar em frente a uma papelaria e lembrei-me que com o Público vinha o ípsilon, e eu gosto do ípsilon. E comprei. E nas últimas páginas dei de caras com um artigo de opinião.
O autor é um senhor chamado Jorge Bacelar Gouveia, professor catedrático de Direito e deputado à Assembleia da República pelo PSD e, confesso a minha ignorância, pessoa de quem eu nunca tinha ouvido falar. Mas eu, como até estou benevolente hoje, acredito que seja um senhor muito inteligente e culto, de uma sabedoria arrasadora para os meus padrões. Só que o senhor teve a triste ideia de escrever sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo. E isso deixou-me logo com pele de galinha.
Então vamos lá analisar os pontos de discórdia.
1. Não se diz casamento gay: o casamento não é gay, porque não tem orientação sexual, é uma instituição legal, um contrato escrito; diz-se casamento entre pessoas do mesmo sexo.
2. O argumento usado é aquele mais comum e sem piadinha nenhuma, "(...) como se Portugal, no estado em que está, não tivesse outras prioridades(...)". Meu caro senhor Gouveia, Portugal tem muitas prioridades, e esta é uma delas; e caso ainda não tenha percebido Portugal não vai sair do estado em que está, porque está assim desde o século XII; por isso vamos tratar deste assunto enquanto é tempo, para evitar mais mortes (sim, porque há mortes, não julguem que isto é um tema de pouca importância).
3. O senhor vem todo indignado dizer que já que querem mudar a lei, então façam referendo, porque se fizeram para a questão da despenalização do aborto também têm de fazer para isto. Eu acho piada esta conversa vinda de um professor de direito, porque eu, que não pesco muito de direito, tenho aquela ideia, que devo ter apanhado a ler jornais, de que os deputados são representantes eleitos pela população, e que o referendo só deve ser usado em situações de extrema necessidade. Ora bem, se existe a possibilidade de a lei ser votada no Parlamento, e neste caso existe a possibilidade de ser aprovada, vamos fazer referendo para quê? Ah pois, vamos fazer referendo porque só depois de as pessoas terem posto lá a cruz é que repararam que o partido que escolheram tem ideias diferentes das suas. Tivessem pensado nisso mais cedo.
4. (E este eu adoro mesmo) "(...) as formações partidárias que promovem o casamento gay dão liberdade de voto aos deputados, impedindo assim que os cidadãos, através do seu prévio voto legislativo nas urnas, pudessem ter obtido um antecipado conhecimento da posição oficial final sobre o assunto por parte de cada partido no momento da votação do respectivo projecto de lei." Vamos ver se eu entendi. Os partidos que promovem o casamento entre pessoas do mesmo sexo serão, seguindo o raciocínio do senhor, PS, PCP e BE. Todos eles avisaram que caso a lei fosse proposta para aprovação na Assembleia iam votar a favor. E fizeram esse aviso antes das eleições. Mas o senhor diz que os deputados podem mudar de ideias. Então se podem mudar de ideias, votam contra. Que parecia que era o que o senhor queria, porque o texto só mostra que ele seja um homofóbico disfarçado. Mas o senhor está indignado com isso. Olha, estou confusa, o que é que o homem quer afinal?
Sobre este texto fantástico, que eu vou emoldurar e pendurar na parede do meu quarto, ao lado dos textos do senhor João César das Neves, fica um comentário, que eu acho muito bom, do Daniel Oliveira: É prioritário dizer que isto não é prioritário.

27.10.09

O C. estava sempre lá. Todos os dias, estava sempre por perto. Agora não vai estar, durante uns meses. Eu não sabia que ele me iria fazer tanta falta. Não sabia que gostava tanto dele. É pena só descobrir isto nas piores situações.

26.10.09

I don't like mondays...

Às vezes um dia normal torna-se inesperadamente num dia muito mau, a vida dá-nos uma grandessíssima bofetada. E nós nunca estamos preparados para isso.
Soube hoje que um bom amigo meu está gravemente doente. Não tenho forma de o apoiar, e nem sei como o fazer. Só posso esperar.

25.10.09

"Ó Zé, vai pôr a mesa. Agora não mulher, tenho de ficar a olhar para a televisão como um vegetal".

Eu tenho um problema com homens. É a forma mais simples de começar a explicar isto. Tenho um problema, possivelmente derivado do péssimo exemplo masculino que tive, e que me causa um profundo descrédito nos homens. A minha namorada tem uma vertente de psicóloga, e diz que isto se deve ao facto de eu considerar a mulher muito superior ao homem, e daí achar que nenhum homem merece uma mulher. O resultado, seja qual for a causa, é o facto de a grande maioria dos homens me irritarem solenemente e não conseguir ver neles qualidades. Podem dizer que eu tenho uma fobia qualquer, não me interessa.
Este texto deve-se a ter assistido a várias situações, nos últimos tempos, em que alguns homens mostram não dar valor nenhum às respectivas esposas. O último desses casos foi uma situação em que a mulher estava a fazer uma coisa, uma coisa trabalhosa, digamos, e o homem estava sentado, especado a olhar para o porta-chaves. A pensar em coisas interessantíssimas, sem dúvida alguma.
Isto dá-me nervos. Dá-me nervos e cansa-me e deixa-me pior que estragada. Porque raio é que para uma quantidade significativa dos homens portugueses (eu sei que não é só em Portugal, mas é o único povo que conheço bem) elas trabalham enquanto eles olham?
Há aquela resposta mais comum, que eu adoro, de que o homem tem um emprego, “ganha o dinheiro”, por isso não precisa de mexer uma palha em casa. Mas se ambos trabalham, e quando chegam a casa a mulher é que faz tudo, como fica a situação? Depois dizem que os homens não têm jeito para tarefas domésticas. Ninguém nasce ensinado, mas aprende-se. E há mais argumentos, todos eles de um interesse extremo e facilmente rebatíveis.
O que me leva à conclusão óbvia: os homens não fazem nada porque não querem, porque não lhes apetece e, mais importante que tudo, porque a sociedade lhes tolera isso. E é esse último pontinho ínfimo que me deixa os prismas todos desalinhados: a sociedade aceita isso, aceita que as mulheres trabalhem e os homens assistam.
Claro que eu não sou perfeita, mas dou valor à minha namorada. E gosto de a ajudar, seja no que for. E não me imagino a ficar especada a olhar para o nada enquanto ela faz tudo e mais alguma coisa. Será que sou eu que tenho uma mentalidade assim tão avançada, sou eu que não faço sentido?

24.10.09

"Querida, não te importas de vir mudar o pneu ao carro? É que afinal não tenho jeito para isto."

Ainda ontem falava de estereótipos e preconceitos da sociedade (post abaixo), e não é que mais uma vez me sinto cheia de urticária pelo mesmo motivo? São para aí nove da noite e começa um programa na SIC, não sei quantos em casa, não apanhei bem o nome. Objectivo do programa, mostrar as diferenças entre homens e mulheres. E pelo meio de muita parvoíce, metem umas quantas coisas científicas. Apanhei, por exemplo, a parte em que fazem malas. E como os três homens que estavam no estúdio eram relativamente organizados, fica logo ali provado que os homens são mais arrumados que as mulheres. Eu adoro estas coisas.
Vamos a exemplos que eu conheço. Eu safo-me a mudar pneus e consigo ver o óleo do carro. Segundo as pessoas desse programa eu sou o "homem da relação". Mas eu também tenho algum, pouco é certo, mas algum jeito para cozinhar. Então também sou a "mulher da relação". Meu deus!! Segundo essa gente triste eu sou tudo na relação.
Por favor, deixem-se de tretas. Cada pessoa é uma pessoa, com as suas características. Não há duas pessoas iguais, toda a gente conhece a frase. Por isso não arranjem mais estereótipos parvos para homens e mulheres, para adultos e crianças, para tudo e mais alguma coisa.

23.10.09

"Não querido, não podes brincar com bonecas, porque isso é para meninas e não queremos que tu sejas maricas."

Eu sou uma pessoa muito complicada. Melhor ainda, muito comichosa. Tenho opiniões sobre quase todos os assuntos, e adoro pô-las aqui, quer sejam lidas ou não.
Desta vez, o que me deixam com uma certa urticária, foi uma iniciativa para, supostamente, o divertimento das crianças. Ligo a televisão e no programa da manhã da SIC estão a falar de um espaço inaugurado há uns meses onde, dizem, as crianças vivem "a maior diversão das suas vidas". Penso eu, deve ser um sítio fantástico. Nesse dito sítio as crianças brincam. Óptimo, essa é a melhor coisa de ser criança - passa-me pela cabeça. Mas depois a coisa perde a graça. Porque nesse sítio as crianças "experimentam profissões". Ou seja, elas não têm a maior diversão da sua vida ao brincar pelo simples divertimento que brincar pode provocar (e todos sabemos que brincar é sempre bom). Não, elas divertem-se sendo transformadas em pequenos adultos. Não brincam porque sim, brincam porque têm de treinar para o futuro.
Isto não me agrada nada. Eu, pelo que me lembro da minha infância, brincava porque era giro, era divertido, tinha piada. Não porque assim aprendia. Ou porque assim me preparava para o futuro. Eu queria lá saber do futuro. Aquelas criancinhas têm 5 anos, são feitas de sonhos, não de projectos, ou de ideias que se vão invariavelmente tornar realidade. Eu, na minha infância, quis ser guarda-redes, mecânica, camionista, e mais umas quantas coisas. E hoje não é nada disso que faço.
Mas pronto, esta parte fez-me confusão, mas até se aceitava. Agora o resto. Existem, se os meus ouvidos não falharam, cerca de 50 profissões disponíveis nesse espaço. Mas eu acho que a escolha não é bem feita. Duvido muito que entre essas esteja técnic@ de uma agência funerária, técnic@ da recolha do lixo, técnic@ de limpeza de casas de banho públicas. Essas profissões são tão legítimas como qualquer outra, mas não têm graça. Por isso não são apresentadas às crianças. Se os responsáveis querem ser correctos, rigorosos, devem mostrar de tudo um pouco, quer seja fixe e colorido e interessante, quer seja prático e útil e às vezes chato.
E a outra coisa que me deixou com uma certa irritação, é a contínua discriminação por género. Como é que no século XXI, os portugueses continuam a ter esta mentalidade tacanha de que há profissões distintas para homens e para mulheres. O grupo de crianças que estava em estúdio a ser usadas como exemplo era formado por dois rapazes e duas raparigas. Não perguntaram aos rapazes se queriam experimentar brincar com um/uma maquilhador/a. Não, encaminharam-nos logo para o piloto de corridas. E vice-versa. Eu não entendo isto, porque é que as crianças têm de fazer uma coisa, brincar de uma determinada forma, por puro preconceito dos adultos. Eu odiava bonecas e brincadeiras em que fosse suposto tomar conta de bebés e brinquedos para lavar a louça ou cozinhas. Eu adorava jogar futebol, e adorava carros em miniatura. E felizmente nunca ninguém me impediu de fazer aquilo que realmente me divertia. Mas há quem impeça os filhos de se divertirem, porque "isso não é para rapazes, é para raparigas", ou o contrário.
Esta cansa-me, cansa-me mesmo muito.

22.10.09

Também não era preciso tanto. Esta gente adora bater no ceguinho.

Esta gente passa-se. Eu entendo, ficamos um bocado agoniados com a saída do José Saramago (andar um bocadinho para baixo para ver o comentário a isso, se faz favor, já sabem como se faz), eu pelo menos fiquei um tanto ou quanto mal disposta, mas também tenho andado adoentada, se calhar é disso. Mas não é preciso exagerar. O pior é que o português típico exagera sempre. E isso chateia. Primeiro vem um tipo que pelos vistos é deputado do PSD no Parlamento Europeu, e de quem só 0,1% da população é que ouviu falar (de qualquer forma, não votei nele, as pessoas em quem votei sei pelo menos os nomes), um tal de Mário David, e o senhor vem dizer que José Saramago devia "renunciar à cidadania portuguesa". O homem não devia estar bem naquele dia, acontece, às vezes temos dias assim, enfim, dá-se-lhe o desconto.
Mas não é que agora surge António Sousa Lara renascido das cinzas para atacar mais uma vez? Para quem não sabe ou não se recorda, Sousa Lara foi o sub-secretário de Estado da Cultura, um cargo de elevadíssima importância, que em 1992 impediu que O Evangelho Segundo Jesus Cristo, de Saramago, concorresse ao Prémio Literário Europeu, porque era uma obra que punha em causa uma série de dogmas da Igreja Católica (1). Ora este senhor vem agora dizer que Saramago "está ao nível de Berlusconni". Eu não sei o que é que o Saramago pensa desta frase, mas para mim isto é um insulto pior do que me mandarem a certos sítios, e merecia um par de lambadas bem assentes em quem o disse. Mas Saramago é um senhor respeitável, que decerto reagirá com muito mais sensatez do que eu (visto que eu não tenho disso).

Mas agora a sério, esta gente pensa no que diz quando está a falar? É que não devem pensar. O José Saramago pode não ter tido um momento particularmente feliz com o que disse, mas querer que ele renuncie à cidadania e dizer que ele é como o Berlusconni é abusar. Principalmente vindo de dois políticos ou ex-políticos.


(1) Só para espicaçar um bocadinho, devo também dizer que o senhor Sousa Lara foi condenado a dois anos e meio de prisão, com dois anos de pena suspensa, por administração danosa enquanto vica-reitor da Universidade moderna.

21.10.09

Crente praticante, crente não praticante, mas o que raio é que isso interessa?

Nos últimos dias, devido, em parte, à questão das declarações de José Saramago, e em parte a algumas aulas que tenho tido (para que melhor se entenda, uma das cadeiras que tenho este semestre é História e Civilização do Islão), tenho ouvido várias vezes os conceitos de católico, crente e praticante. E acho uma piada doida a essa noção de católico praticante.
Para começar porque o cristianismo católico é a única vertente de uma religião em que se põe a questão de ser ou não praticante. No Islão, ou é-se muçulmano ou não. Os judeus são judeus tanto pela fé como pela herança cultural. Os cristãos protestantes o mesmo. Mas os cristãos católicos têm essa ideia, para mim sem sentido, de que se pode ser crente sem ser praticante. Do meu muito humilde ponto de vista, o que interessa é que se tenha fé nessa religião. Agora seguir ou não todos os rituais, isso é uma questão de sentido prático, que para mim não tem necessariamente a ver com a fé.
E outra coisa que me dá nervos. "Sou católico porque me baptizaram". Essa não me entra. Que eu saiba pertence-se a uma religião por fé, não por tomar banho numa pia baptismal. Eu fui baptizada, porque os meus pais quiseram, fiz a primeira comunhão, porque os meus pais quiseram, e não é por isso que sou católica, ou sequer cristã. Devo andar mesmo perdida, porque me parece que muita gente diz pertencer a uma religião como diria que vai ali comprar tabaco. Ou então sou eu que ando com princípios muito rígidos.

20.10.09

Qualquer dia dizem que o Papa é o anti-cristo. Tem piada, acho que já ouvi isso em algum lado... Ah, pois, foi na Idade Média.

O Saramago teve azar comigo. Tive de ler O Memorial do Convento no secundário, por obrigação, e aquilo não me caiu bem no estômago. Aqueles parágrafos de quatro páginas, aqueles diálogos vírgula isto vírgula aquilo vírgula aqueloutro, não faz o meu género. Li uns poemas soltos e até não era mau, bonito, romântico, tinha a sua poesia. E várias pessoas em cujos gostos literários confio dizem-me que escreveu coisas muito boas, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, O Ano da Morte de Ricardo Reis. Não sei, não li, mas acredito que sim.
Mas o senhor não precisava de vir dizer que a Bíblia é "um manual de maus costumes". Isso era desnecessário. Se ele não acredita, também não precisava de fazer as críticas que fez à Igreja Católica. Eu tenho cá as minhas opiniões sobre a Igreja, tenho as minhas crenças (ou a falta delas) e lido com isso à minha maneira. Mas respeito muito quem tem fé. Admiro mesmo essas pessoas, a fé dá-lhes uma segurança que eu nunca terei.
Há pessoas que com a idade julgam que podem dizer tudo o que lhes apetece. A minha avó sofre do mesmo. Mas a verdade é que não podem. Guardem as suas opiniões para si. Ninguém lhes perguntou nada.

18.10.09

Hoje não sou maluquinha, mas quando nasci era.

Ainda sobre notícias que encontrei hoje, esta.
Ocorreu ontem uma "manifestação", no Largo Camões, inserida num conjunto de acções a nível mundial, com o objectivo de iniciar o processo de alteração do conceito de transexualidade, que ainda figura na lista das doenças mentais.
Isto fez-me uns comichões desgraçados. Porque eu não sabia que quem sente que quer mudar de sexo é considerado doente mental. Pensava que era uma pessoa como as outras. Como o senhor do café, como a rapariga do supermercado, como eu. Mas não. Os transexuais são doentes mentais, e eu, antes de 1990, também o era, uma vez que foi nesse ano que a homossexualidade foi retirada da lista de doenças mentais da Organização Mundial de Saúde.
Estamos no século XXI, 2009, e a transexualidade continua a ser considerada uma doença mental. Em Portugal, os transexuais não podem mudar de nome, porque a lei não lhes permite. Os homossexuais não podem casar com alguém do mesmo sexo. Há uma série de países no mundo em que a homossexualidade é considerada crime, sendo que em alguns é punida com pena de morte.
Isto magoa, magoa mesmo muito. Que haja gente tão estúpida no mundo. Que haja gente que sente prazer em destruir as vidas dos outros, em impedir pessoas de serem felizes. Há dias em que tenho muita pena de viver num mundo assim.

Vou chamar Torpécia à minha filha, nome mai lindo não há!

Hoje peguei no jornal e dei com esta notícia. A dita refere-se a um processo que se arrasta nos tribunais, iniciado por uma família que queria chamar ao seu filho Diego, e que não pode porque é proibido dar esse nome a uma criança portuguesa cujos pais não tenham origem estrangeira. O argumento é o de que "qualquer inversão desta relação entre nomes e nacionalidade é tida como perturbadora", sendo que neste caso o nome tem origem castelhana. Perturbadora é uma palavra interessante. Ver milhares de pessoas a dormir nas ruas deste pais é perturbador. Ver a falta de respeito que a grande maioria das pessoas mostra é perturbador. Um miúdo português chamar-se Diego não me parece particularmente perturbador. Eu, na minha enorme ignorância, acho que o miúdo não se vai sentir um espanhol puro, adepto do Barcelona e que só come tapas, por ter um nome de origem castelhana. E também me parece que tentar proteger a cultura portuguesa através de decisões jurídicas destas é simplesmente ridículo. Preocupem-se em reabilitar os monumentos nacionais ou alguma coisa assim, essas coisas sem importância nenhuma.
Mas achei interessante que fossem apresentados alguns nomes permitidos para registo na notícia, "Adonai, Vitiza, Solângia ou Pégui". O primeiro e o último são aportuguesamentos de nomes estrangeiros. Agora o segundo e o terceiro não são. Eu, por acaso, tenho conhecimento da origem do nome Vitiza, mas português não é e isso garanto: é um nome de origem visigoda, ou seja, germânica. E Solângia, que raio é isso?
Eu, como sou extremamente curiosa, decidi ir saber que nomes são permitidos. E fiquei parva. Diego não é permitido, mas Cizina, Geisa, Gabínio ou Rolende são, entre muitos outros. Vejam a lista. E aproveitem para rir. Umas boas gargalhadas fazem sempre bem.
P.S.:Não se pretende com este texto ofender pessoas que tenham nomes incomuns. Se algum dos leitores tiver um dos nomes aqui referidos, pede-se desculpa pela utilização.

17.10.09

6 meses. 183 dias. Todos maravilhosos.

Amo-te.

14.10.09

"Ai que me lembrei que sou português e tou tão chateado com o mundo inteiro"

Eu às vezes surpreendo-me a mim própria. Ainda há uns dias escrevia aqui uma coisa sobre o facto de gostar de Portugal mas não dos portugueses (como é óbvio não me vou dar ao trabalho de pôr o link, se querem ver andem com a página um bocadinho para baixo, não custa nada) e não é que tenho mais um argumento para aumentar ainda mais esse meu sentimento?
Há coisa de dois anos uma actriz brasileira, Maitê Proença (que, particularmente, acho que é boa actriz), fez um vídeo onde diz umas quantas parvoíces sobre Portugal e os portugueses. Nota-se que lhe faltam conhecimentos de história, de geografia, e um certo cuidado com determinados gestos. Mas pronto, é um vídeo que não me aquece nem me arrefece. Mas pelos vistos há milhares, se não milhões, de portugueses, que ficaram indignadíssimos; agora, dois anos depois!!!Ora vejamos: a Luísa Castel-Branco, por quem eu até tinha um certo respeito, diz "Que tal proibir-lhe a entrada no país?" (claro, é exactamente isso que eu faço quando gozam comigo, proibo que essa pessoa entre no meu país, não melhor, no meu continente, é isso, vamos impedi-la de entrar na Europa); uma série de comentários em vários blogs, cada uns piores que os outros, e que nem vale a pena ver; e para cúmulo, uma petição!! a exigir um pedido de desculpas, assinada, no momento em que escrevo, por mais de 2500 pessoas.
Agora, se não se importam, eu faço o favor de relembrar a essas pessoas que andam com vontade de fuzilar a Maitê, a forma como os brasileiros são vistos e tratados em Portugal: o brasileiro é ladrão, é corrupto, é preguiçoso, vem cá para roubar o trabalho dos portugueses (esta é das que eu mais gosto, dá-me uma vontade de rir), as brasileiras roubam os maridos das mulheres portuguesas, enfim, o diabo a quatro. Mas quando somos nós o motivo do gozo ou da piada fácil, já dói não dói?
Sei que a lei de talião não é politicamente correcta, olho por olho, dente por dente, mas esse vídeo e todos os outros tipos de gozação que os portugueses sofrem não são mais do que justos perante a forma como os portugueses têm tratado outras pessoas ao longo do tempo.

13.10.09

Fenómenos do Entroncamento

Ando a ver televisão a mais, só pode. Jornal da noite da TVI; especial sobre o jogo da Selecção Nacional amanhã. O jornalista Sousa Martins, em directo de Braga, cidade onde a Selecção se encontra, faz a reportagem; são oito horas e vinte minutos, vê-se que é noite cerrada. A palavra passa para uma jornalista, que se encontra junto ao Estádio D. Afonso Henriques, em Guimarães. "Em directo". E não é que ali é de dia? E não só é de dia, como parece que ainda é bem de tarde. Não fazia a mínima ideia que de uma cidade para outra mudava completamente o fuso horário.
Minha gente, não julguem que os espectadores são estúpidos.

11.10.09

Os meninos jogam à bola, as meninas brincam com bonecas, e eu devia ser um E.T., coitada de mim...

Há um programa na TVI, cujo nome desconheço, onde crianças vão mostrar os seus talentos. Antes iam cantar, agora fazem outras coisas, como tocar instrumentos musicais. Calhei a assistir à apresentação de uma rapariga de 14 anos a tocar bateria; a miúda tinha um jeito fantástico para aquilo. Depois de tocar uma música, foi falar com os apresentadores, Manuel Luís Goucha e Júlia Pinheiro. E a Júlia Pinheiro, esse poço de sabedoria, faz o seguinte comentário: "Mas isto [tocar bateria] não é para meninas!". A rapariga, que felizmente era inteligente e despachada, perguntou logo porque é que não haveria de ser para raparigas. Mas eu fiquei a remoer a coisa. Não deveria de ser uma mulher como aquela, uma "figura pública", a apoiar o fim de certos preconceitos e falhas de mentalidade da sociedade? Pelos vistos não. Pelos vistos para ela as raparigas tocam piano e fazem bordados. Não tocam bateria, não, isso não é coisas de meninas. Caramba, esta gente enche a boca para falar da igualdade de direitos e do fim do preconceito e da discriminação, mas quando é altura de darem o exemplo falham sempre. Morre o peixe pela boca, já dizia a minha avó...

10.10.09

Lisboa anti-pátria da vida*

Tenho uma teoria (que não interessa a ninguém, eu sei, mas que vou dizer na mesma) sobre Portugal. Eu gosto de Portugal, e por isso mesmo estou a estudar a sua história. Mas não gosto muito dos portugueses. São um povo estranho, sempre a queixar-se de tudo, sempre resignado. Vi no outro dia uma frase, atribuída a Júlio César, o imperador romano, que me pareceu fazer mesmo sentido: "Há, nos confins da Ibéria, um povo que não se governa nem deixa governar". Parece-me que é assim que os portugueses são.
E vem isto a propósito de Lisboa. Em relação a Lisboa tenho o mesmo sentimento que tenho em relação a Portugal, gosto do local, gosto das vistas e da luz, gosto daqueles sítios que nos tiram o fôlego, gosto das ruas estreitas e das grandes avenidas. Mas não gosto das pessoas.
Agora encontrei este texto. E voltei a sentir o mesmo. Eu gosto de Lisboa, gosto de todos os seus detalhes. E se calhar as pessoas não são assim tão más. Mas só se calhar.
*verso de Sophia de Mello Breyner Andresen

A "coutada do macho latino"

Eu tenho, digamos, um problema: tenho uma dificuldade enorme em entender as formas de pensar e agir dos homens. Simplesmente não consigo. Aquilo não me entro, como é que fazem tantas parvoíces, dizem tantas asneiras, será que não pensam de todo? É claro que há excepções; eu conheço algumas, poucas é certo, mas algumas. Mas eu pensava que isto era um problema meu, e como também não é uma coisa que me venha a fazer infeliz no futuro, vivia bem com a questão. Mas descobri que afinal não sou só eu que penso assim. Afinal há mais mulheres que não entendem uma boa parte das coisas que os homens fazem (quando as fazem) e dizem (quando não as "grunhem"). E essa informação chegou-me de uma pessoa por quem até tenho um certo respeito profissional, visto que é uma especialista na sua área e, estranhamente, também na minha. A pessoa em causa é Maria Filomena Mónica, especialista em sociologia e historiadora nas horas livres. E o texto em questão é este, publicado na Revista Única do Expresso da semana passada.
Neste texto a autora desenvolve a teoria de que os homens, apesar de terem evoluído (aleluia, mal de nós se assim não fosse), continuarem a ser extremamente, hum, falta-me a palavra, trogloditas, não é a palavra certa, mas por agora serve. Aquelas questões muito básicas da falta de higiene e assim. E agora vêm @s defensores e defensoras do sexo masculino dizer "mas os homens são limpinhos e agora até usam cremes e perfumes e coisas assim". Ora eu acho muito bem que assim seja, ainda bem que o fazem, só lhes fica bem. Mas experimentem ir a um sítio, seja em Lisboa ou na aldeia em que vivo, e olhar para 10 homens acima dos 45, talvez 50, anos. Façam esse exercício. E reparem nos detalhes. Reparem naquela unha com um comprimento absurdo no dedo mindinho; reparem nos pêlos do peito a serem exibidos, porque são sem dúvida uma prova da muita masculinidade e virilidade; reparem no barrigão de cerveja/ vinho/ outra bebida alcoólica qualquer, que se traduz, como é medicamente conhecido, num fígado que parece um bocadinho de couro ressequido. A sério, sou só eu que vejo estas coisas? Ando a delirar?

6.10.09

pensa no chão
na terra húmida calcada pelos teus pés
no passo para trás para te desviares
do vulto que não reconheces

pensa no silêncio
pensa na voz rouca que por vezes amas
pensa na solidão desse silêncio que te inquieta
na varanda escura que cresce para longe de ti

pensa na casa vazia
nos ruídos, na chuva a bater nos vidros da janela
pensa naquele sítio onde sabes que te podes esconder
a qualquer hora do dia ou da noite

agora não penses
porque casa pensamento é um minuto de vida que perdes
e já tens tão pouca para viver

Outubro de 2009

5.10.09

E eu que pensava que a pólvora já tinha sido descoberta...

Alguém, no caso uma psicóloga, de seu nome Vanessa Ramalho, decidiu fazer um estudo e torná-lo publico, sobre aquilo que já toda a gente devia saber, e que não sabem ou não pensam porque a sociedade portuguesa é tão atrasada que mete impressão: Homoparentalidade: estudo da adequação homoparental. Nesse estudo chegam à conclusão que os "os homossexuais, em geral, não são "neuróticos e ansiosos". Pelo contrário, são "afectuosos, tranquilos, confiantes e firmes nas decisões", características que fazem deles melhores pais do que muitos heterossexuais, mais "neuróticos, ansiosos e inseguros". Finalmente alguém descobriu que ser homossexual não é uma doença contagiosa, nem um distúrbio mental terrível, e que isso não nos torna maus pais e mães! Estava difícil!
Relacionado com esse tema surgiram também esta e esta notícias, assim como, para já, o comentário do Miguel Vale de Almeida.
Eu sei que estas coisas deviam de ser feitas no início do ano, mas como não se tratou de uma coisa planeada, e como sempre fui um bocado contra tradições, tomei uma série de decisões para a minha vida. Por influência de conversas com duas pessoas, uma a mulher que amo, com quem tenho falado sobre a minha vida e as mudanças que gostava de lhe fazer há bastante tempo, outra uma amiga de quem gosto bastante, e que decidiu ela própria reagir à resignação e ao marasmo da sua vida, comecei a ponderar fazer alterações, a princípio pequenas, mas que, espero, viram a ter uma grande importância no futuro.
A primeira decisão é deixar de fumar, coisa na qual tenho vindo a pensar há algum tempo, e que agora decidi que terá de ser definitiva. Acabaram-se as reduções, o "tenho de deixar de fumar um dia destes". Acabou e pronto.
A segunda é arranjar um emprego no próximo verão, que por motivos escolares vai ser mais longo, mesmo que esse emprego seja pesado e difícil.
A terceira decisão é poupar dinheiro, tanto da parte que gastava regularmente em tabaco, como desse possível emprego e de outros gastos que fazia e agora não faço, dinheiro esse que quero vir a utilizar no mestrado e/ou nos custos de um carro.
A quarta decisão é menos material e mais pessoal: deixar para trás uma série de mágoas e ódios de estimação, coisa que muito mal me fazia.
E quinta (porque agora não me lembro de mais), e esta vai depender muito da disponibilidade e vontade que tiver, é aderir a um projecto que me entusiasme verdadeiramente, e que neste momento teria um teor político.
E pronto, é um resumo das coisas que decidi. Pode ser pouco, mas é alguma coisa. É o princípio de mudar a minha vida e não me resignar ao que os outros me impõe.